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ABRANTES "CRISÂNTEMOS e PLACAS AJARDINADAS "

José Manuel d’Oliveira Vieira
(Autor Artigo "Jornal de Alferrarede" Fev2007)
…“Lembro-me bem de que nessa manhã toda a Praça acordara enfeitada de crisântemos. Mas só agora eu reparava bem neles. Havia crisântemos ao longo das arcadas, uma roda de vasos cercava a fonte por dentro das grades. Havia-os brancos, roxos, amarelos, de cabeleiras caídas para os olhos, com o seu ar fatal ao sol triste de Outono.” (“Aparição” de Virgílio Ferreira – Acção passa-se em Évora. Romance de 1959)
Mestre na arte e manipulação de flores, o Jardineiro da Câmara Municipal de Abrantes, Simão António Vieira, já há alguns anos fazia “tábuas” de plantas em viveiro (1), quando foi chamado a Évora para ensinar a arte e cultivo das diversas espécies de crisântemos.
Castas seleccionadas em Abrantes e colocadas em viveiro naquela cidade, deram origem à primeira exposição de crisântemos ali realizada, vista por Virgílio Ferreira e o seu amigo Moura, na “Praça do Giraldo”.
Já em 1940, aquando da “Exposição do Mundo Português”, Simão Vieira, esteve vários dias em Lisboa, contribuindo com os seus conhecimentos para que os trabalhos de jardinagem da “exposição”, fosse uma revelação para os lisboetas e por todos os portugueses que por lá passaram.
Em 1947, Abrantes viu a sua primeira exposição de crisântemos. Nesta exposição, foram vistos mais de mil e quinhentos vasos.
Em 1949 mais de três mil vasos ornamentaram jardins e ruas de Abrantes.
Consolidadas as mais ou menos trezentas variedades de crisântemos em exposição, algumas das quais criadas pelo avô Simão, Abrantes viu em 1953, mais de dois mil vasos espalhados pelas ruas. Admitido ao serviço da Câmara Municipal de Abrantes em 1926 e promovido a jardineiro-chefe em 1927, Simão António Vieira, vindo do Alentejo, radicou-se em Abrantes, no início do Século XX (2).
Criando estufas (3) e viveiros com as mais variadas espécies de plantas, todas elas catalogadas e etiquetadas, Simão António Vieira e José António Vieira (4), pai e filho, fizeram maravilhas com as plantas.
Jornais locais e nacionais, revistas e livros falaram de Abrantes, das suas exposições de crisântemos, dos seus frisos e placas ajardinadas.
Em 1940, “a C.M.A. conquista a taça (5) da I Secção (placas ajardinadas), na I Exposição Nacional de Floricultura”, realizada em Lisboa. O Jardineiro municipal, Simão António Vieira, é premiado com 250$00”.
Graças ao grande Mestre Jardineiro, a “Cidade Florida” foi desenvolvendo os Jardins.
Alusivas ao desporto, religião, insígnias ou apenas aproveitar as plantas da época, fazer “placas ajardinadas” foi uma das características de Simão Vieira e seus ajudantes.
Inéditas, as fotografias publicadas no “Jornal de Alferrarede”, mostram-nos as “placas”, elaboradas em Abrantes, há mais de cinquenta anos.
Durante a pesquisa efectuada para o presente trabalho, foi possível encontrar no A.H.C.A., as fotos da “placa” premiada em Lisboa, no dia 12 de Julho 1940 (6). Desconhecido é o local onde eventualmente se poderá encontrar a “taça”.
A composição das “placas ajardinadas” requeria maquetas, moldes e variadas espécies de flores e cores, a condizer com o trabalho planeado.
Muitos foram os jardineiros que sob a supervisão de Simão António Vieira contribuíram para as extraordinárias obras de arte então apresentadas pela Câmara. Foram os mais directos colaboradores do “Chefe de Jardins, Simão António Vieira”: José António Vieira, Manuel Ramos Machado, Alfredo Alves Maria, António de Campos Bugalho, João Bernardo Januário. Sem eles não seria possível alcançar o prestígio e reconhecimento de Abrantes como “Cidade Florida”.
ABRANTES TÁBUAS E EXPOSIÇÃO DE CRISÂNTEMOS
LISBOA - “EXPOSIÇÃO NACIONAL FLORICULTURA – 1º PRÉMIO”
LISBOA “TRABALHOS JARDINAGEM ESPOSIÇÃO MUNDO PORTUGUÊS”
ABRANTES – PLACAS AJARDINADAS/EXPOSIÇÃO CRISÂNTEMOS
(1) Vasos de barro expostos em fila, com pouca largura, para facilitar os amanhos culturais. Vasos não pintados facilitam a respiração das raízes e possibilitam as trocas gasosas através dos poros do barro, havendo um melhor desenvolvimento da planta.
(2) Intimidações à família, por reclamar melhores condições de trabalho, trouxeram-no a esta terra.
(3) Regar as plantas expostas nas “Estufas de Inverno/Verão” era o castigo que o avô Simão aplicava aos netos.
(4) José António Vieira, jardineiro da C.M.A., foi algum tempo depois, Chefe dos Jardins Municipais de Évora, onde se realizaram importantes exposições de crisântemos e mosaicultura.
(5) Taça encontrava-se exposta na Biblioteca, existente nos Paços do Concelho.
(6) Foto “Exposição Nacional de Floricultura” – Lisboa.
Negativos: Carlos Vieira Dias, digitalização JMOV.
NOTA: As “placas ajardinadas”, apresentadas no “Jornal de Alferrarede”, são apenas uma parte do que se fez em Abrantes.
As fotos do “friso” que se encontrava à entrada do Jardim do Castelo (lado esquerdo), com os dizeres “C.M.A. VEJA E NÃO MEXA”, já não existe. A “placa” com o célebre “RELÓGIO MARVIN”, que tantos forasteiros trouxe ao “Jardim”, incluindo o representante oficial da marca em Portugal e que valeu um relógio ao jardineiro da C.M.A., Simão Vieira, não foi publicada no "Jornal de Alferrarede", porque só agora a fotografia foi achada no meu arquivo pessoal. Se outras fotos de "placas" forem descobertas por quem ler este "blog", comente e diga onde as encontrar.

2 comentários:

Anónimo disse...

Foi com alegria que vi este blogue onde se mostram os trabalhos magníficos de jardinagem feitos em Abrantes nos anos 40/50 do século passado pelos jardineiros da família Vieira. Que pena actualmente já não haver artistas como esta família que fizeram com que Abrantes ficasse conhecida como a "Cidade Florida". Dou pois os parabéns ao autor deste blogue e neto do jardineiro chefe Simão Vieira e que continue com a publicação destes excelentes trabalhos quer no blogue, quer no "Jornal de Alferrarede".

TURMA 6ºE disse...

Caro Jose Vieira, mais uma vez muito obrigado por mostrar a verdadeira historia desta nossa cidade ... desconhecia esta arte florida e o exemplar trabalho ou melhor dedicacao da familia Vieira. Os seus familiares devem estar orgulhosos pelo seu registo e divulgacao. Tem feito um excelente trabalho de investigacao ... muito obrigado.
Com estima ...
Rui André