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A PEDRA QUE SERVIU D. JOÃO I EM ABRANTES - AS EDIFICAÇÕES EXISTENTES E A HISTÓRIA DO CASTELO

José Manuel d’Oliveira Vieira
(Autor Artigo "Jornal de Alferrarede" Dez2005)
No livro “O Concelho de Abrantes”, em “Notas Históricas”, Diogo Oleiro, diz estar a pedra, junto à Igreja de Santa Maria do Castelo, não precisando a data da fotografia.
Porém, a mesma aparece na Rua da Barca, onde eu e o Director do Jornal de Alferrarede tivemos o privilégio de a ver durante muito tempo (anos cinquenta).

Com a demolição da casa então existente no cruzamento da Rua da Barca com a de D. Nuno Alvares Pereira, a pedra regressa ao local descrito por Diogo Oleiro nas suas notas.
Feita a localização da pedra e o seu trajecto ao longo dos anos, vamos então saber a razão porque falamos dela: A fotografia (fig. 1), que se encontra na História de Portugal “Edição Monumental da Portucalense Editora – Porto, Volume II, página 379, mostra-nos as construções existentes no Castelo e a pedra que segundo reza a história, serviu de apoio a D. João I para montar a cavalo, no dia 8 de Agosto, terça-feira, depois de ouvir missa na Igreja de S. João.

Os edifícios, supostamente, desconhecidas do local onde se encontra a pedra, mais não eram do que instalações militar que se encontravam no Castelo de Abrantes.
Após a entrega das instalações à C.M.A., os edifícios sofreram alterações de vulto, encontrando-se hoje conforme nos é mostrado na figura dois (fig. 2)

Quanto à pedra, encontra-se hoje, no mesmo local (lado oposto do muro), junto à fachada de Santa Maria do Castelo (Museu Regional) e das instalações entretanto demolidas.
Na figura um e dois, poder-se-á comparar os azulejos, antes e depois do restauro, dissipando-se assim as duvidas sobre os edifícios onde se encontrava localizada a pedra.
Refira-se no entanto, não ter sido sempre assim a fachada dos edifícios em questão. A Mais antiga fotografia que tive ocasião de ver, encontra-se no livro “Abrantes Cidade Florida – o Concelho de Abrantes, monografia patrocinada pela Câmara Municipal de Abrantes e pelo Grémio da Lavoura.
As “Notas Históricas”, de Diogo Oleiro”, referem-se ao Castelo de Abrantes de uma maneira tão minuciosa, levando-nos a viver essa época.
Pela sua importância, dá-se a conhecer ao leitores mais jovens a História do Castelo bem como a fotografia do “antigo palácio do alcaide-mor”, podendo-se ver por ela as modificações sofridas nas suas estruturas, ao longo dos anos (fig. 3).

“O Castelo
Do velho castro que alguns vestígios nos deixou, aproveitado e fortificado pelos Romanos (1), que nele edificaram o templo que nos legou a esplêndida estátua descabeçada que se admira no Museu e que depois os Mouros o transformaram em mesquita, surgiu o Castelo de Abrantes, que D. Afonso Henriques veio a tomar em 1149 e que em 1179 suportou o grande cerco do Miramolim. Valorosamente defendido o Castelo pelos Abrantinos, em 29 de Julho de 1179 alcançaram uma formidável vitória que mereceu a D. Afonso Henriques a concessão do primeiro Foral de Abrantes, com grandes privilégios, e onde se ordena que dois terços dos cavaleiros vão ao fossado e um terço fique no Castelo.
Temos, pois, a fortificação de Abrantes em plena eficiência militar, sofrendo em 1195 segundo assalto dos Mouros, comandados por Almançor e também repelido como o de 1179.
Em 1215 o Rei D. Afonso II, cumprindo um voto de D. Afonso Henriques, mandou edificar nas ruínas da mesquita dos Mouros a Igreja de Santa Maria do Castelo, que veio a ser a segunda paróquia de Abrantes.
D. Afonso III reparou as muralhas e fez obras de circunvalação de 1250 a 1279.
Em 1300 outra reparação de muralhas por D. Dinis e a construção da Torre de Menagem.
Na Idade-Média a Torre de Menagem era um elemento importante num castelo, o derradeiro refúgio dos defensores.
Certamente por ser Abrantes uma das três vilas da Rainha Santa Isabel quis D. Dinis fazer obras de vulto, e três anos levou a construir a sua torre. Além desta tinha outras semicirculares, fossos e barbacãs, comunicando com o exterior por uma poterna, a defesa a fazer-se por merlões, postigos, parapeitos salientes e frestas, e a vigilância por adarves e caminhos de ronda cobertos por ameias, do lado dos campos, ligando as cortinas com as torres. Não fugindo à regra, a porta da traição lá estava na muralha nascente-sul, vendo-se hoje entaipada, no sítio do jardim conhecido pela (Montanha russa).
A Torre de Menagem tinha três pavimentos guarnecidos por ameias e era construída com o aparelho do Castelo, bem esquadriado, do mesmo lavor das muralhas, cujo tipo se vê no adarve que fica por trás do Museu e que presentemente tem as ameias à vista, e a parte que fica por baixo do depósito de água da cidade, muralha que escapou à fúria rebocadora do governador, general barão da Batalha.
Cada pavimento tinha sua sala com às respectivas seteiras e próximo da entrada principal do Castelo estava o palácio do alcaide-mor. Bastantes cisternas asseguravam água à guarnição e a quem se acolhesse em ocasiões críticas.
Passam D. João I, D. Duarte, D. Pedro regente, D. Afonso V, a Rainha D. Joana, D. João II, D. Manuel e sempre os Almeidas na alcaidaria-mór, condes de Abrantes, o apadrinharam, em 1506, o baptizado do Infante D. Luís, em Santa Maria do Castelo, e aqui sepultados em magníficos túmulos os condes e senhores de Abrantes que iam sucessivamente desaparecendo.
Passaram os séculos de quinhentos, seiscentos, setecentos e oitocentos, e enquanto os vizinhos Castelos de Almourol, Belver, Amieira se foram ficando estáticos, guardando ciosamente a sua feição medieval, o de Abrantes, maior, mais completo e dominando uma importantíssima posição estratégica, viu-se na necessidade de se adaptar ao método de fortificações que foram surgindo, sacrificando o que anteriores séculos tinham feito, às novas artes da guerra. E passa a aquartelar regimentos ingleses e parques de Artilharia, o Regimento de Cavalaria dos Voluntários Reais, a Ifantaria da Legião de Alorna, destacamentos de Artilharia, Regimentos de milícias, Infantaria 20, Caçadores 30, Infantaria 23, Infantaria 10, Batalhão de Sapadores, um presídio militar, mais Artilharia Companhia de Veteranos. De novo entregue à Artilharia por volta de 1899, dele tomou conta a Artilharia 2 e, depois, o Grupo de Artilharia Montada, Regimento de Artilharia 8, Grupo Misto de Artilharia 24, Grupo de Artilharia a Cavalo 2 e agora (1945) o Grupo de Artilharia contra Aeronaves 2, sucessor directo dessas modelares unidades que tanto honraram a artilharia portuguesa e tomaram para seu quartel o Castelo de Abrantes.
O falecido general Costa Ferreira, que foi director-geral da Arma de Artilharia, referindo-se a este Castelo dizia: “Nada que fizesse prever a utilização desta plataforma ideal para a instrução da perseguição de aviões feita de terra”. E falando a respeito do general Abel Hipólito e às obras que efectuou no Castelo de Abrantes: - “realizando obras que não só salvaram da ruína este Castelo e o aquartelamento, como permitiram que hoje pudéssemos ter aqui, mercê também dos seus sucessores que infatigavelmente prosseguiram nas realizações, o melhor quartel de, artilharia antiaérea do Exército Português, pelas suas instalações e, sobretudo, por esta elevada plataforma em que nos encontra-mos, apta como nenhuma outra à perseguição feita de terra sobre aviões”.
Das várias edificações que existiam no Castelo uma só resistiu às modificações efectuadas - a Igreja de Santa Maria do Castelo que se transformou em Museu Regional em 1921 e ficou como padrão para atestar e guardar o que desde o primitivo castro foi possível recolher.
O adarve, baluarte, Santa Maria e algumas relíquias militares na última guardadas, serão os representantes do castelo antanho.
Os vestígios da fortificação romana do castro que a antecedeu, das primitivas construções, encontram-se mas muito fundo, quando para firmar alicerces de novas edificações se escava à procura do firme. Na esplanada há um monumento ao general Bernardo de Faria”.

(1) Nunca em Abrantes se encontraram vestígios que permitam supor ter aí existido povoação romana de alguma relevância. Não podemos esquecer-nos que Diogo Oleiro, que aí viveu e sempre foi tão atento às antiguidades da terra, nunca registou vestígios que minimamente convençam do passado romano da cidade. Nem J. M. Bairrão Oleiro. Nem, no nosso tempo, J. Candeias Silva ou Filomena Gaspar.

2 comentários:

Telma disse...

Sem dúvida um excelente trabalho de investigação!!! É um exemplo de que reforma não é sinónimo de "não fazer nada". É um trabalho que em muito deve orgulhar a família Vieira! PARABÉNS Tio!!! Telma

Anónimo disse...

Boa tarde,
antes de mais parabéns pelo artigo. Gostava de fazer uma pergunta, que não sei se me sabe responder: durante o a pesquisa que o levou a realizar o artigo encontrou algum documento ou sabe se existe algum documento que mostre ou descreva como era composto o castelo na sua forma "original"?

Cumprimentos