No ano em que se comemora o "Centenário de Abrantes como Cidade", nada melhor de que recordar alguns textos (escolhidos), imagens escritas, que o Coronel Joaquim Maria Valente, autor do livro "LANÇANDO AO VENTO... no Concelho de Abrantes" consagrou à então Vila de Abrantes, período 1885/1905:
-Na próxima publicação do mesmo autor e livro: "COMÉRCIO"
-Na próxima publicação do mesmo autor e livro: "COMÉRCIO"
A NOTÁVEL VILA DE ABRANTES
ANTIGAS OBRAS DE DEFESA EDIFÍCIOS PÚBLICOS, RUAS E PRAÇAS
Durante o período 1885-1905 a então denominada Notável Vila de Abrantes existia apenas na área abrangida pelo perímetro de muralhas, que com dez obras de fortificação permanente a colocaram na lista das antigas praças de guerra.
Durante o período 1885-1905 a então denominada Notável Vila de Abrantes existia apenas na área abrangida pelo perímetro de muralhas, que com dez obras de fortificação permanente a colocaram na lista das antigas praças de guerra.
Grande parte dos panos de muralha já
tinham desaparecido ou por demolição ou por incorporação em edifícios particulares. Os terraplenos e os fossos, em grande parte aterrados e
nivelados, constituam quintais de habitações e, das obras de fortificação
apenas existia o Castelo, como reduto final que foi de defesa, pois as outras
obras: do Adro Velho, da Esperança, de Santa Iria, de Sao. Francisco, de Santo
António, do Vale do Judeu, dos Fornos de Assento, de Sao Domingos, de Santo
André, já não existiam.
Dos sete primitivos portões das muralhas só existiam
os vãos de dois — o da Rua da Barca e o dos Quinchosos, — pois os outros — o do Chafariz, o da Rua do Cabo, o da
Ferraria, o de Santana e o de Santo António — já tinham sido demolidos.
Quanto a Praças e Ruas existiam as dos
tempos idos, algumas com nomes que a política, conjugada com a fantasia,
tinham substituído
por outros registados em letreiros existentes nas paredes de alguns prédios.
Abrantes não resistira à onda demolidora de tradições que deviam ser queridas, permitindo a contradança dos
nomes que descaracteriza os aglomerados urbanos.
Évora soube resistir, pelo
menos em primeira fase, a tal onda, pois
uma edilidade que encontrou ruas e praças com os chamados nomes
modernos, determinou serem mantidos também os nomes antigos e assim lê-se lá
nos letreiros:
Rua de ... ... ...
Antiga Rua de ... ... ... ... ...
Compreende-se
que a uma rua nova seja dado um nome escolhido na ocasião da sua abertura mas é injustificável, chegando a ser
um abuso moral de autoridade, alterar o nome que tem uma rua antiga, o qual já
faz parte das características da povoação,
que com a mudança fica parcialmente descaracterizada, como mutilado fica
o registo da sua história, embora haja
gente que não possa compreender estas
coisas.
E o público, que é sempre tradicionalista e sensato, reage sempre contra as mudanças. Em Lisboa, por exemplo, ninguém chama ao Rossio Praça de D. Pedro IV, nem ao Terreiro do Paço Praça do Comércio, nem à Rua dos Capelistas Rua do Comércio,
etc.
Em Abrantes existem também o Rossio, a Rua Grande, a Rua do Outeiro, etc., que nem todas as pessoas designam pelos nomes modernos.
E sendo assim notamos
que, no período a que se re ferem estes apontamentos,
as praças e ruas principais então existentes eram:
Praça do Concelho
Praça da Ferraria
Praça do Concelho
Praça da Ferraria
Praça da Palha de Cima
Praça da Palha de Baixo
Praça de Santa Cruz dos Pasteleiros
Rossio
Largo da Misericórdia
Largo dos Quinchosos
Rua Grande
Rua Adiante
Rua do Outeiro
Rua dos Castanhos
Rua de S. João
Rua do Almada
Rua de S. Pedro
Rua da Graça
Rua da Boga
Rua do Cabo
Rua da Barca de Cima
Rua da Barca de Baixo
Rua de Santa Iria
Rua do Arcediago
Rua do Castelo
Rua dos Paços do Concelho
Rua dos Oleiros
Rua da Sardinha
Rua da Barroca da Praça
Rua da Videira
Carreira dos Cavalos
A Praça do Concelho era já denominada Praça Raimundo Soares.
A Rua
Grande tinha já o nome de Rua Santos e
Silva.
A Rua dos Castanhos passara a ser Rua Serpa Pinto.
A Praça Santa Cruz
dos Pasteleiros, que depois foi Largo dos Pasteleiros, era denominada Largo João de Deus.
O Rossio era a Praça do Barão da Batalha.
Hoje é provável que tais denominações já tenham sido
substituídas por outras moderníssimas.
Dos quatro Conventos legados pelos tempos passados: Esperança, Santo António, Graça e S.
Domingos, só existia o da Graça, completo,
com as respectivas Igreja e cerca, e só veio a desaparecer por demolição depois
da morte da última freira professa, facto que se deu no período a que se referem estes apontamentos.
O Convento de frades de S. Domingos, com ampliações e adaptações era quartel das tropas de Infantaria,
seja ao tempo quartel do regimento de caçadores nº 8, o da Esperança,
depois de várias adaptações, era sede do Distrito
de Recrutamento e Reserva, escola oficial primária do sexo masculino e
parte dele estava adaptado a teatro. (Era o Teatro Taborda), em homenagem ao
actor Taborda, natural de Abrantes.
O de Santo António já não existia e no seu
lugar fora construído o Matadouro Municipal.
Em parte
da área onde existiu o Convento da Graça foi
construído o actual edifício das Repartições Públicas.
O Rossio, praça existente defronte do Quartel de S. Domingos, era muito utilizado para exercícios de instrução
dos recrutas das tropas alojadas no quartel, e nele eram armadas as barracas da feira anual de S. Matias,
de quinquilharias, mobiliário e
louças regionais, ourivesaria, tecidos, etc, e de alguns divertimentos
(tiro ao alvo, fantoches, circo, figuras de cera, etc,). Em tal feira nunca
faltava a barraca de quinquilharias de dois irmãos, que todos os habitantes de Abrantes conheciam e estimavam: a Mana
Escolástica e o Mano Miguel, parecendo que a feira
deixaria de existir logo após o falecimento dos dois.
Os acontecimentos porém seguiram o seu rumo natural, pois os manos faleceram
mas a feira, tendo mudado de local, não
deixou de existir. O facho passou a outras mãos e a vida continuou, mas
aqui fica evocada a memória dos dois tão simpáticos feirantes — a mana
Escolástica e o mano Miguel.
Voltando à denominação das ruas, salvo o devido respeito e sem
sombra de censura para ninguém, a mudança das designações chega a ser
hilariante por vezes, pois é bem conhecido o exemplo de em certa vila ter havido uma rua que tinha o seu nome tradicional, que foi substituído pelo de um político local, nome este que cedeu o
lugar ao primeiro quando a influência da cor política enfraqueceu.
É o culto exagerado da
personalidade, que poderia desaparecer se em cada povoação as ruas fossem designadas por números, segundo determinado esquema.
Haveria por exemplo: praças, largos, avenidas, ruas
e becos e assim teríamos:
Praça n.° l, largo n.° 4, avenida n.° 2, rua
nº 16 e beco nº 5.
Seria assim tudo mais simples, mais económico, não despertaria cócegas em ninguém para mudar, por exemplo, o número 7 para 9, e seria mais belo e
poético porque, no dizer de um grande pensador, o sistema de números,
com várias operações e combinações a que se presta, constitui o mais belo
edifício arquitectónico que o homem
inventou.
(PÁGINAS 17/18/19/20/21 - do livro "Lançando ao Vento... no Concelho de Abrantes - Caderno do Coronel Valente". O texto é uma cópia do referido livro.
(PÁGINAS 17/18/19/20/21 - do livro "Lançando ao Vento... no Concelho de Abrantes - Caderno do Coronel Valente". O texto é uma cópia do referido livro.
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