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ABRANTES DE ONTEM E DE HOJE... (I)

A TODOS OS QUE SE INTERESSAM EM SABER COMO ERA "ABRANTES DE ONTEM E DE HOJE..."
(Fotos do autor, de Carlos Vieira Dias, Jornal de Alferrarede e postais antigos)
RUA INFANTE D. HENRIQUE - Foi Rua das Flores, mais tarde Rua Almirante Cândido do Reis (1910/1940) e Rua Infante D. Henrique desde 9 de Dezembro de 1940. Nesta Rua existiu, não há muitos anos, a casa que se vê na foto à esquerda.
Desafiando o tempo e as novas tecnologias, tal como no passado (1757), na antiga Rua das Flores, hoje Rua Infante D. Henrique, ainda existe um alfaiate à moda antiga.
(Negativo preto e branco de Carlos Vieira Dias)
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RUA TENENTE VALADIM - Na subida para a Rua Tenente Valadim, onde em tempos havia um logradouro, existe hoje uma habitação de primeiro andar e um estabelecimento comercial no r/c. Em primeiro plano, na foto à esquerda vê-se o jogador Travassos, do Sporting Clube de Portugal, quando, em 1950, esta equipa esteve em Abrantes a comemorar XXVII aniversário da 7ª Filial do Sporting. Como curiosidade refira-se que na Rua Tenente Valadim, em tempos Nª. Sª. do Socorro, no local onde se encontra a Farmácia Morta Ferraz, existiu até 1893 uma Ermida com o nome desta antiga rua. (Negativo preto e branco de Carlos Vieira Dias)
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LARGO MOTTA FERRAZ - CASA DOS CASTROS - Comprada pela C.M.A. em 1939 a Álvaro Damas e família, o Palacete “Casa dos Castros” (foto Esq.) foi em Novembro do mesmo ano cedido gratuitamente à Administração dos CTT para ai ser construído o novo edifício da estação dos correios. Projecto da Autoria do Arquitecto Adelino Nunes e mais tarde intervenção do Eng.º Roberto Espregueira Mendes, foi o edifício inaugurado no dia 28 de Maio de 1943.

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PRAÇA BARÃO DA BATALHA - A foto (Esq.) refere-se à festa da água em 11 de Outubro de 1891. Durante os 116 que já passaram, a Praça Barão da Batalha, que já foi Praça da Palha de Baixo, teve várias funções: foi chafariz público, teve duas bombas de abastecimento de combustíveis e foi praça de táxis. A última intervenção, vedou esta praça ao trânsito, tornando-a num espaço de lazer.
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ABRANTES (VISTA GERAL) -Junção de vários postais de Abrantes, do início do Século passado, cujos autores desconheço. Veja-se o "Chafariz", o café "Tendinha" e o local onde está instalado o "Mercado Diário".

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AVENIDA 25 DE ABRIL - Foto esquerda (1º BLOCO): veja-se a já desaparecida “Auto Garagem Abrantina e Estação de Serviço” de Edmundo Lopes e como era a fonte do “Chafariz”. Desta fonte se dizia que, devido à baba deixada pelos cavalos que ali iam beber, as suas águas tinham a particularidade de curar as secreções secas nos olhos (remelas).
O local onde hoje se encontra o Bazar Chinês, foi em tempos a cavalariça do Regimento de Infantaria Nº 2 e o bebedouro era a fonte do Chafariz.

Após a conclusão da muralha (2º BLOCO), foi construído o edifício que serviu de apoio às bombas de abastecimento de combustível, na então estrada Nacional 2-4, hoje Avenida 25 de Abril. Em ambas as fotos se pode ver algumas figuras bem conhecida de Abrantes.
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PRAÇA RAIMUNDO JOSÉ SOARES MENDES - Achada à relativamente pouco tempo e em muito mau estado, a foto à direita, mostra como era a antiga Praça do Concelho, hoje Praça Raimundo José Soares Mendes. No local onde hoje se encontra o prédio “Milho”, estava um prédio de segundo andar. O prédio á direita do “Café Portugal”, onde à época estava a "Ourivesaria Lemos" era igualmente composto por dois andares.
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PRAÇA RAIMUNDO JOSÉ SOARES MENDES - Era a cadeia no Castelo até que, em 20 de Julho de 1602, foi transferida para o edifício da Câmara. Paços do Concelho e Cadeia pública, este edifício chegou a albergar mais tarde, durante algum tempo, o Corpo de Bombeiros. Foi ainda Biblioteca Publica. Não se conhecem fotografias com a antiga fachada da Câmara. Na foto à esquerda pode-se ver uma formatura dos bombeiros e à esquerda destes como era o edifício da Farmácia Silva. Na mesma foto pode-se ver parte do antigo pórtico da Câmara.
À direita: Reconstituição da fachada principal do antigo edifício da Câmara Municipal pelo Dr. Rogério Ribeiro, segundo indicações do Sr. José Silva.

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PARADA GENERAL ABEL HIPÓLITO - Topónimo atribuído por entidades militares, dado que este espaço foi quartel até finais da década de 50. Em 1916, Abel Hipólito era comandante de Artilharia nº 8. Participou, em Abrantes, no movimento militar de 13 de Dezembro de 1916 que sufocou a revolta chefiada por Machado dos Santos. Foi em 1910, considerado “herói da República”, por ter desenvolvido uma importante acção contra a monarquia. Nasceu em Viseu em 1860 e morreu em Lisboa em 1919. Na foto à esquerda (canto inferior direito), no local onde hoje se situa o Parque Radical, podem ver-se as antigas instalações do quartel de Artilharia. (Toponímia Abrantina – Eduardo Campos)RUA DAS BARREIRAS DO CASTELO - Foi outrora residência e taberna. Tirando proveito da localização, como “Taberna”, serviu as Unidades Militares então aquarteladas no Castelo de Abrantes. Abandonada, foi reconstruída, para nela funcionar desde 21 de Abril de 2006, a “Cafetaria Bar” “O Alcaide”.
Um documento de 14 de Julho de 1602 (TSMC, f. 7v.), designa esta rua por “Samta Maria da Corredoura”.
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LARGO GENERAL AVELAR MACHADO (CASA DO CAPITÃO MOR) - Em 1833, a acompanhar as Infantas D. Isabel e D. Maria, estiveram em Abrantes o visconde de Santarém e o intendente da policia Belfort, guardiães do tesouro da coroa. Belfort ficou alojado na casa do Capitão Mor (fotos Esq./Dtº) Manuel Joaquim Pimenta. O Tesouro da coroa, foi transportado para esta Vila de Abrantes, por 80 juntas de bois, ficando este depositado na casa Almada, que serviu de Paço Real.
Demolida a Casa do Capitão Mor (foto Esq.), no mesmo local foi construído o edifício que se vê à direita. Durante a demolição da Casa do Capitão Mor foi encontrada uma moeda de ouro que valeu uma razoável importância a quem a achou. No r/c funciona uma loja de pronto a vestir, um banco e um café restaurante.
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RUA ACTOR TABORDA - A modernidade fez desaparecer do local, o "chafariz" que se vê na foto (lado esquerdo). A esquina da casa que se vê em frente (ambas as fotos), marca o fim da antiga "Rua Adiante". As escadas que se vêem ao fundo, entre a casa e o muro do Colégio de Fátima, indicam ter ali existido até 1822 uma "travessa" que dava para uns quintais do "Adro Velho e Adro da Esperânça". (Refª pág. 210/2111 Toponímia Abrantina - Eduardo Campos)
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RUA DA BARCA/RUA D. NUNO ÁLVARES PEREIRA - Intersecção de duas ruas, que no ano de 1856 se denominavam como sendo ruas da "Barca de de Baixo" e de "Cima". A Rua D. Nuno Álvares Pereira ostenta este nome desde 1927 (AHCA, Actas, cx.3, m. 1, nº 17).Um documento de 1370 que se encontra no AHCA (SV, 1,32), já se refere à Rua da Barca como "caminho da Barca".
O Mapa da "Villa" de Abrantes de 1856, localiza a Rua da Barca de Cima com a hoje Rua D. Nuno Álvares Pereira e a Rua da Barca de Baixo com a actual Rua da Barca. Numa destas ruas residiu o General Humberto Delgado.
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RUA DE S. PEDRO - Nesta rua existiu uma Igreja chamada de S. Pedro-o-Velho. Autorizada a sua construção em 1676, foram as obras iniciadas em 1688, benzida no dia 31 de Julho de 1708 e suprimida em 1834 por falta de fregueses. No seu lugar existe hoje um prédio que ostenta na sua fachada uma placa evocativa do facto.
LARGO DE S. PEDRO (I) - No local onde está edificado o Cine-Teatro de S. Pedro, existiu até 1946 a Igreja de S. Pedro-o-Novo, designando-se assim para se diferenciar de outra igreja com o mesmo orago, mais antiga (Igreja de S. Pedro-o-Velho – Rua de S. Pedro). A Igreja de S. Pedro-o-Novo já estava edificada neste local, pelo menos, em 1731. (PA 1731. Vd. Ainda o LA 67, sessão de 2 de Julho de 1946, f. 10,10v. – no arquivo da CMA) – PG. 176 Livro Toponímia Abrantina de Eduardo Campos.
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LARGO DE S. PEDRO (II) - Assim se denomina, por no local onde hoje se encontra o Teatro de S. Pedro, ter existido uma Igreja com o nome de S. Pedro-o-Novo. Neste conjunto de fotos pode-se ver a partir do Largo, a esquina do Teatro de S. Pedro e da Igreja de S. Pedro-o-Novo, esta, edificada em 1731 e demolida em 1946. (PA 1731.Vd ainda o LA 67 sessão 3JUL1946 Arquivo C.M.A.)

RUA DA VIDEIRA - O livro “Toponímico de Abrantes”, diz que a Rua da Videira, passou a designar-se por Rua de Santo António em 18 de JUN1941. (LA 64, f 99.99v Arquivo C.M.A.) A não ter havido nova deliberação municipal é provável que a placa toponímica esteja errada. Neste conjunto pode-se ver como é actualmente a rua e como a mesma era, vendo-se ao cimo, à esquerda, a Igreja de S. Pedro-o-Novo, que após demolição, deu lugar ao Cine Teatro de S. Pedro.

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PRAÇA RAIMUNDO JOSÉ SOARES MENDES (I/II) - Conhecido por Largo da Câmara, esta Praça deve o seu nome ao Capitão da 1ª Companhia do denominado Batalhão Nacional de Caçadores de Abrantes (1847), Raimundo José Soares Mendes. Politico de grande influência, Soares Mendes exerceu entre outros cargos o de presidente da C.M.A. Como sócio e presidente deu também o seu nome ao existente Montepio Abrantino. Neste conjunto de fotos, pode-se ver a evolução que o Largo sofreu ao longo dos anos. Outra foto mais antiga (reserva do autor) mostra o edifício mais alto deste Largo (Ed. Milho), quando apenas tinha dois andares.
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OUTEIRO DE S. PEDRO - Neste local, já em 16 de Julho de 1301 era atestada a existência da Igreja de S. Pedro, chamando-se “o sítio Outeiro das Carrasqueiras ou de S. Pedro” (AHCA, SJ, 1,5. - PG. 177 Toponímia Abrantina). Este foi o provável local de saída de D. Nuno Álvares Pereira para a Batalha de Aljubarrota. Na foto de CVD são visíveis os "fossos" que circundavam o "Forte de São Pedro". Como curiosidade refira-se que em 1815, na explanada do Forte de S. Pedro, por falsificação de moeda, foi fuzilado o sargento de Infantaria 20, António Augusto de Simas.

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LARGO DE S. JOÃO - Em 1919 era este Largo designado por "Largo Prior do Crato". Antes era conhecido por "Rua Entre Torres". Antes de ser a Igreja como hoje a conhecemos, foi Ermida, exaltada em Paróquia, pelo Senhor Rei D. Afonso IV no ano de 1326. Também nesta Igreja, El-Rei D. João I, antes de partir para a batalha de Aljubarrota (8 de Agosto de 1385) ouviu missa. Após a mesma, montou a cavalo, servindo-lhe de apoio uma “pedra” que hoje se encontra à entrada do Museu de Santa Maria do Castelo, antes, na Rua da Barca e na época no cemitério pegado com a Igreja de S. João. (Ver PG. 59/60 Memória Histórica da Notável Vila de Abrantes).

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RUA D. AFONSO HENRIQUES - Antiga rua de Stª. Iria, assim se chamava esta por no local onde hoje se situa o Edifício Pirâmide existir uma Ermida com este nome. Na foto com data de 1891 é visível uma banda a comemorar "A FESTA DA ÁGUA". No canto inferior direito da mesma pode-se ver o local onde se encontra a "Abranclínica", antiga "Casa de Saúde

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LARGO DR. RAMIRO GUEDES - Sobre esta praça (hoje largo) uma postura municipal do Século XVII dizia: "acordamos que toda a pessoa que vemder erva a podera vemder nas duas prasas desta villa no Recio dela ate ho outeiro da Igreja de sam sebastiam" (LP2, f. 88 v.) Repare-se na foto antiga: à esquerda e à direita da mesma as casas entretanto demolidas ampliaram o espaço. Do conjunto restou apenas o edifício onde se encontra o "Café Bilhar".

UNIDADES E PONTES MILITARES EM ABRANTES - SÉCULO XVIII/XIX

José Manuel d’Oliveira Vieira
(Artigo Autor "Jornal de Alferrarede Abr2006)
A necessidade de haver uma travessia para uma das margens de um qualquer rio, para a circulação de pessoas e mercadorias, constituiu desde sempre uma preocupação permanente das populações aos longo dos séculos.
Para a travessia do Rio Tejo, a população do “Rocio de Baixo e Rocio de Cima”, recorria com frequência a jangadas, barcas, ou aproveitava os vaus proporcionados pelo rio.
Segundo um mapa atribuído a João Teixeira Albernaz, referente à Fronteira entre o Alentejo e a Estremadura Espanhola, do ano 1650 com as “Villas queimadas en Castella” e as “Villas tomadas en Castella”, no contexto da Batalha do Montijo, na Guerra da Restauração da independência de Portugal, vê-se parte da Província da Beira, o Castelo da “Villa de Abrantes” e o Rio Tejo. Na parte portuguesa não existe qualquer ponte edificada, ao contrário da parte espanhola na zona de Castella em Alcântara, onde se identifica uma ponte sobre o Rio Tejo (fig. 1).
Em 1731, quando do levantamento das fortificações projectadas e iniciadas na praça da “Villa e Castelo de Abrantes”, pelo Engenheiro Engeléer, lá se encontra uma “Ponte de Barcas”, protegida por redutos de defesa nas duas margens, entre a Ribeira de Fernão Dias (Rossio ao Sul do Tejo) e o Rio das Hortas (Lopo).
Indicar-nos-á este mapa ter existido efectivamente uma ponte (militar) neste local? (fig. 2).
A gravura mais antiga e conhecida que retrata uma ponte sobre o Rio Tejo em Abrantes, tem data desconhecida e é capa do livro “Memória Histórica da Notável Vila de Abrantes”, de Manuel António Morato e Joaquim da Fonseca Mota – organização e notas de Eduardo Manuel Tavares Campos”. Pela leitura da gravura, localização da “Villa” e ponte, parece ser o local referido pelo Engenheiro Engeléer no mapa das fortificações projectadas e iniciadas (fig. 3).
O “Mappa Topográfico” de 1797, do “Tenente-coronel Manoel de Souza Ramos e Segundo Tenente José Maria Ferreira da Fonseca”, localiza uma “ponte de barcas”, no local onde hoje está a ser construído o Açude insuflável. Neste “Mappa”, realça-se os pormenores de defesa da controversa ponte, bem como o modelo das barcaças “ponteneiras” do Real Arsenal da Marinha, utilizadas especialmente neste tipo de construção (fig. 4). Por um “Mappa Militar” de 1801, fica-se a conhecer os acampamentos de “Tropas Portuguesas e Inglesas”, que constituíam a defesa da “ponte” e da “Villa”. Esta defesa tinha ainda como objectivo proteger um grande depósito de munições, cujas ruínas existiam até há poucos anos em Abrantes, em local conhecido por "CURVA DO PAIOL".
A defesa da ponte consistia: a Sul (Cabeço do Caneiro), por Infantaria e Cavalaria; a Norte (no local onde hoje se situa a Escola Secundária Dr. Manuel Fernandes), por Artilharia. A defesa da “Villa de Abrantes” começava a Sul na estrada para Bemposta e era constituída por Infantaria/Artilharia Britânica e Cavalaria; na “Banda d’Além” (Rocio ao Sul do Tejo) por Caçadores e Granadeiros; na “Banda Norte” (Barreiras do Tejo) pela Infantaria/Artilharia Britânica e ainda por Artilharia e Infantaria Portuguesa. O último dos acampamentos, situava-se, junto à estrada para “Villa de Rey” e era constituida por Unidades de Cavalaria. Não sendo muito esclarecedor, tudo leva a crer que sendo este um “Mappa” de defesa da “Villa”, a alternativa à ponte existente (já mencionada em 1731), mais não é de que uma ponte estratégica (fig. 5).
A localização de uma “Casa das Barcas” junto ao “Lopo”, numa “Planta da Praça de Abrantes” de 1817, indiciará ter havido neste local uma ponte de barcas? A referência nesta “planta” a dois “vaus”, poderá significar ser passagem de uma população menos abastada. É que já no século XVII, “as barcas de passagem prestavam um serviço caro e irregular (1)” (fig. 6)
Entre 1790/1812, o “Coronel de Engenharia Manoel de Souza Ramos” elabora um plano, cujo texto se transcreve: “Plano de huns Cobertos para recolher as 60 Barcas Ponteneiras, q. forão do Real Arcenal da Marinha a servir nas Pontes, q. se lançarão no Tejo de Abrantes, e Rio Zêzere (entre 1780 e 1810?); os quaes poderão servir também para os 30 Bateis pertencentes à Ponte de Villa Velha tendo os ditos Cobertos mais metade do seu comprimtº” (fig. 7/7a).
Como se pode ver pelos mapas e cartas da época, aparecem dois locais a situar as pontes: a primeira (1731) consta como estando entre a Ribeira de Fernão Dias (Rossio ao Sul do Tejo) e o Rio das Hortas (Lopo) “planta do Engenheiro Engeléer”. O “Mappa Topográfico” do Engenheiro Manoel de Souza Ramos (1797) localiza a segunda ponte onde hoje está a ser construído o Açude insuflável.
Mas, para surpresa de muitos, uma terceira ponte havia de aparecer. Durante uma conferência, subordinado ao tema “reorganização do exército português no tempo do Conde de Lippe”. Na Biblioteca de Abrantes, no dia 24 de Outubro de 1984, o Dr. Fernando Salgueiro Maia apresentou pela primeira vez aos Abrantinos um “Desenho da ponte militar “estabelecida no Tejo da Villa de Abrantes de 1808”. Esta sim existiu efectivamente no local onde teimosamente alguns ainda continuam a chamar “ruínas de uma ponte romana”. Com esta apresentação, Salgueiro Maia exclui a hipótese dos romanos terem alguma vez edificado uma ponte sobre o Rio Tejo em Abrantes (fig. 8).
Da leitura feita às cartas topográficas e mapas apresentados, resulta o seguinte: exceptuando o mapa do Engenheiro Engeléer (fig. 2), todas as outras plantas e planos (fig. 4, 7 e 8), são da autoria do “Engenheiro Manoel de Souza Ramos”, sendo que esta última (fig.8) tem a particularidade de ter sido assinada pelo próprio no dia 13 Maio de 1812 no Quartel de Abrantes.
Entre os anos 1731/1797/1801, muitos acontecimentos militares fizeram de Abrantes uma “praça de guerra”. O grande número de tropas e armas (artilharia e cavalaria) na margem Sul para defesa da “Villa de Abrantes” teriam necessariamente de utilizar uma ponte. Essa ponte, bem poderia ser a do “Mappa Topográfico” de 1797, uma vez que a sua exposição está bem sustentada.
A existência de uma ponte alternativa conforme se encontra no “Mappa Militar” de 1801 (defesa da Villa de Abrantes), é o normal em planos de estratégia.
Passar cursos de água, usando corpos flutuantes (barcos ou jangadas) sempre foi e continua a ser uma necessidade. O Rio Tejo em Abrantes era no século passado palco de inúmeros exercícios militares. O recurso a pontes de barcas (“improvisadas” ou de “equipagem”) fazia parte das “manobras” anuais realizadas pela Engenharia militar.
Em local sobejamente conhecido dos Abrantinos pode-se ver um desses exercícios com recurso a material de antemão preparado (fig. 9).
Não discutindo o direito de cada um interpretar de maneira diferente os mapas consultados, o presente artigo é apenas uma opinião e não pretende de forma alguma questionar o que se tenha dito e escrito sobre a história de Abrantes.
(1) Tráfego no Tejo pág. 312 Memória Histórica da Notável Vila de Abrantes
Figuras: 1 e 7 Biblioteca Nacional; 2, 4, 6 e 8 Arquivo Militar; 3 Manuel Martinho; 9 Carlos Vieira Dias.

DR. AUGUSTO DA SILVA MARTINS - COMBATENTE, MÉDICO E DESPORTISTA

José Manuel d’Oliveira Vieira
(Autor Artigo "Jornal de Alferrarede" Dez2006)
Dos muitos combatentes que Abrantes deu à I G.G., o Dr. António Augusto da Silva Martins, foi um deles.
A estátua que ostenta o seu busto, no Jardim do Castelo, a frase “Antigo Grupo Pátria”, na base da mesma, foi para mim, até há bem pouco tempo um mistério.
Dr. António Martins nasceu em Abrantes, no dia 4 de Abril de 1892. Médico, desportista e combatente, este filho de Abrantes, esteve no Corpo Expedicionário Português (C.E.P.) em França, servindo no Regimento de Infantaria 23 (R.I. 23), sob o comando do então Major Hélder Ribeiro. Tomou parte na ofensiva geral dos aliados, com o posto de Tenente Médico, onde foi condecorado com a fourragère da Torre e Espada, a Ordem de Cristo, em campanha, com palma e a medalha da Vitória.
Da sua folha militar consta: “...incorporado em 1912, por ter a idade própria, na 7º companhia de Saúde, onde foi encarregado de fazer um curso de ginástica sueca para a referida companhia, tendo como monitores estudantes de medicina. Frequentou as escolas de cabos e sargentos, sendo licenciado neste último posto.
Em 1918 foi mobilizado e incorporado como tenente medico no batalhão de infantaria 14, com o qual partiu para França, em 18 de Maio, fazendo parte do C. E. P., mais tarde transferido para o 6º grupo de Metralhadoras, na retaguarda...”.
“Por esta altura, soube-se que o Regimento 23 ia ser enviado para a linha de batalha e o Dr. António Martins ofereceu-se (a). Na perseguição aos alemães, atravessou o rio Escalda ficando a alguns quilómetros ao norte de Tournai, por ter findado a guerra em 11 de Novembro” (data do Armistício).
Ainda em França, no C.E.P., durante a guerra não descurando a parte desportiva e aproveitando a camaradagem de um oficial inglês, o seu entusiasmo pelo desporto, fê-lo aperfeiçoar o seu estilo no lançamento do disco, tendo ultrapassado os 35 metros, o que constituiu o “recorde” nacional.
No último período da guerra, em França, nos Jogos Pershing, recebeu este combatente, o seu baptismo internacional, com a pistola de precisão.
O Dr. António Martins cultivou quase todos os desportos, especialmente tiro. Fez natação, esgrima, equitação, atletismo, e chegou a dar lições de “boxe” com Silva Ruivo. Os desportos atléticos, iniciados no liceu de Coimbra, continuaram de 1912 a 1921, no Club Internacional de “Footbal”.
Porém, onde o seu vulto desportivo mais se ergueu, foi no tiro de pistola, onde atingiu a sublime perfeição das modalidades desportivas praticadas, na então “Sociedade de Tiro N.º 2 (Antigo Grupo Pátria). Combatente, desportista e eminente médico, Dr. António Augusto da Silva Martins, foi vítima mortal de acidente aos 38 anos de idade, quando treinava na Carreira de Tiro de Pedrouços. Lembremos pois, este “Combatente de Portugal, filho de Abrantes”, com um episódio da sua gloriosa vida de atirador e amor à Pátria: Na carreira de “Tiro de Santander”, Espanha, em 1926, oito anos depois do Armistício (11NOV18), o notável médico, envergou a sua velha e honrada farda de oficial combatente da Grande Guerra, e obteve o 1º lugar na modalidade “tiro de pistola”.
(a) No “Aditamento N.º 2”, anexo ao relatório do C.E.P. – 1ª D. – 2ª B.I., B.I.23 – (IV Bat.) de 23 de Novembro de 1918, feito em Englos – França, o então Ten. Médico António da Silva Martins, do 6º G.M. (Grupo de Metralhadoras) consta na relação dos oficiais que a seu pedido, se oferecem para a frente de combate, para servir no B.I.23. (pg. 73 da História Militar, Guerra e Marginalidade de Luís Alves Fraga). Bibliografia e fotos – IN MEMORIAM Dr. António Martins, 1930/1931 de Martins Júnior.

AOS QUATRO ANOS EM ABRANTES PAIS E IRMÃOS EM ABRANTES CHEGADA C.E.P. - FRANÇA MAIO 1918NO CLUB INTERNACIONAL DE FUTEBOL (CIF) 1921 ATLETA DO SPOR LISBOA E BENFICA 1921 A RECEBER PRÉMIO DAS MÃOS DO PRESIDENTE TEIXEIRA GOMES 1923
FRANÇA . JOGOS INTER ALIADOS
ABRANTES - ESTÁTUA NO JARDIM DO CASTELO

ABRANTES - RELÓGIO DE SOL VERTICAL (I) E (II)

José Manuel d’Oliveira Vieira
(Artigo Autor "Jornal de Alferrarede" Jun/Jul2006)
RELÓGIO DE SOL VERTICAL (I)
Segundo os entendidos na matéria, o “relógio de Sol” surgiu à 3000 a. C.
No nosso Pais, um pouco por todo o lado, existem relógios de Sol.
Abrantes, não é excepção. Em lugar público, mais concretamente na parada General Abel Hipólito, à entrada para o Castelo de Abrantes, há um relógio de Sol de mostrador vertical, a merecer cuidados de conservação (fig. 1).
O restauro deste relógio solar poderá ser, para pais, filhos, professores e alunos, quando se deslocam ao Castelo de Abrantes, uma experiência única. Ficar a saber como funciona tão eficiente medidor do tempo.
Pelo estado em que o mesmo se encontra (degradado) bastará colocar um “gnómon” (ponteiro), no quadrante deste instrumento de medida e o relógio ficará a funcionar.
Limpar todo o conjunto, avivar números e letras com incidência no “Mostrador” e tábua da “Equação do Tempo” poderá marcar a diferença entre os relógios actuais e a quantidade de informações úteis que o “relógio de Sol” poderá proporcionar aos mais jovens.
A colocação de uma vedação em semicírculo, junto ao único relógio que o público conhece em lugar público de Abrantes, ajudará a que o mesmo se mantenha intacto, o lugar se torne mais harmonioso e assim despertar a atenção dos visitantes que se desloquem ao Castelo de Abrantes.
É provável que um ou outro condutor fique irritado se lhe retirarem o “direito adquirido” do estacionamento e sombra para o carro. Mas, entre o derube de uma ou as duas árvores que não existiam no local quando lá foi colocado o “relógio de Sol”, é preferível retirar a ou as árvore (s).
Relógios de Sol existem em paredes de edifícios e fachadas de igreja (verticais), mas também os há em jardins (horizontais), portáteis e inclusive de bolso. Para os utilizarmos há que começar a orientá-los por meio de uma bússola e conhecer a latitude do lugar em que nos encontramos para dar ao “gnómon” a utilização devida.
Os relógios de bolso são inteiramente de madeira, possuem uma bússola e foram muito usados até meados do século passado pelos lavradores e camponeses na Europa. A razão porque eram tão usados pelos lavradores, devia-se ao facto de os relógios mecânicos serem caros e poucos o podiam possuir.
Um desses “relógios de Sol de bolso” (exemplar raro), encontra-se em Abrantes, é propriedade de um familiar e foi cedido para o artigo em questão (fig. 2).

RELÓGIO DE SOL VERTICAL (II)
Já depois de ter saído o Jornal de Alferrarede (Junho de 2006) foi encontrado em Abrantes mais um "Relógio de Sol Vertical”, relíquia que urge preservar.
Esta foi uma descoberta casual, pelo responsável da Biblioteca António Boto e do AHCA (Arquivo Histórico do Concelho de Abrantes), quando passaram no local.
Após a passagem de tão importante informação, logo no dia imediato me desloquei ao responsável pela venda do edifício onde se encontra o referido relógio.
Obtida a devida autorização, foi possível fotografar um dos mais antigos relógios (penso eu), existentes em Abrantes. Situa-se o mesmo na Rua D Miguel de Almeida, onde em tempos foi a “Pensão Santos” (fig. 3).
O belíssimo estado de conservação em que o mesmo se encontra, só é possível devido ao facto de se encontrar em local pouco acessível (fig. 4).
Sobre a propriedade onde o relógio se encontra pode-se dizer: o edifício está à venda e encontra-se degradado. O relógio está localizado e em local privado, por isso, espero não estar a alertar algum predador, coleccionador de antiguidades, mas sim alertar os responsáveis pelo património local de forma a proteger mais esta relíquia, que merece ser conhecida por todos e preservada, em caso de compra ou restauro do edifício.
É provável não haver mais nenhum relógio de Sol na cidade de Abrantes. A existir e que seja do seu conhecimento comente o facto. Nós nos encarregaremos de o catalogar e divulgar.

ABRANTES "CRISÂNTEMOS e PLACAS AJARDINADAS "

José Manuel d’Oliveira Vieira
(Autor Artigo "Jornal de Alferrarede" Fev2007)
…“Lembro-me bem de que nessa manhã toda a Praça acordara enfeitada de crisântemos. Mas só agora eu reparava bem neles. Havia crisântemos ao longo das arcadas, uma roda de vasos cercava a fonte por dentro das grades. Havia-os brancos, roxos, amarelos, de cabeleiras caídas para os olhos, com o seu ar fatal ao sol triste de Outono.” (“Aparição” de Virgílio Ferreira – Acção passa-se em Évora. Romance de 1959)
Mestre na arte e manipulação de flores, o Jardineiro da Câmara Municipal de Abrantes, Simão António Vieira, já há alguns anos fazia “tábuas” de plantas em viveiro (1), quando foi chamado a Évora para ensinar a arte e cultivo das diversas espécies de crisântemos.
Castas seleccionadas em Abrantes e colocadas em viveiro naquela cidade, deram origem à primeira exposição de crisântemos ali realizada, vista por Virgílio Ferreira e o seu amigo Moura, na “Praça do Giraldo”.
Já em 1940, aquando da “Exposição do Mundo Português”, Simão Vieira, esteve vários dias em Lisboa, contribuindo com os seus conhecimentos para que os trabalhos de jardinagem da “exposição”, fosse uma revelação para os lisboetas e por todos os portugueses que por lá passaram.
Em 1947, Abrantes viu a sua primeira exposição de crisântemos. Nesta exposição, foram vistos mais de mil e quinhentos vasos.
Em 1949 mais de três mil vasos ornamentaram jardins e ruas de Abrantes.
Consolidadas as mais ou menos trezentas variedades de crisântemos em exposição, algumas das quais criadas pelo avô Simão, Abrantes viu em 1953, mais de dois mil vasos espalhados pelas ruas. Admitido ao serviço da Câmara Municipal de Abrantes em 1926 e promovido a jardineiro-chefe em 1927, Simão António Vieira, vindo do Alentejo, radicou-se em Abrantes, no início do Século XX (2).
Criando estufas (3) e viveiros com as mais variadas espécies de plantas, todas elas catalogadas e etiquetadas, Simão António Vieira e José António Vieira (4), pai e filho, fizeram maravilhas com as plantas.
Jornais locais e nacionais, revistas e livros falaram de Abrantes, das suas exposições de crisântemos, dos seus frisos e placas ajardinadas.
Em 1940, “a C.M.A. conquista a taça (5) da I Secção (placas ajardinadas), na I Exposição Nacional de Floricultura”, realizada em Lisboa. O Jardineiro municipal, Simão António Vieira, é premiado com 250$00”.
Graças ao grande Mestre Jardineiro, a “Cidade Florida” foi desenvolvendo os Jardins.
Alusivas ao desporto, religião, insígnias ou apenas aproveitar as plantas da época, fazer “placas ajardinadas” foi uma das características de Simão Vieira e seus ajudantes.
Inéditas, as fotografias publicadas no “Jornal de Alferrarede”, mostram-nos as “placas”, elaboradas em Abrantes, há mais de cinquenta anos.
Durante a pesquisa efectuada para o presente trabalho, foi possível encontrar no A.H.C.A., as fotos da “placa” premiada em Lisboa, no dia 12 de Julho 1940 (6). Desconhecido é o local onde eventualmente se poderá encontrar a “taça”.
A composição das “placas ajardinadas” requeria maquetas, moldes e variadas espécies de flores e cores, a condizer com o trabalho planeado.
Muitos foram os jardineiros que sob a supervisão de Simão António Vieira contribuíram para as extraordinárias obras de arte então apresentadas pela Câmara. Foram os mais directos colaboradores do “Chefe de Jardins, Simão António Vieira”: José António Vieira, Manuel Ramos Machado, Alfredo Alves Maria, António de Campos Bugalho, João Bernardo Januário. Sem eles não seria possível alcançar o prestígio e reconhecimento de Abrantes como “Cidade Florida”.
ABRANTES TÁBUAS E EXPOSIÇÃO DE CRISÂNTEMOS
LISBOA - “EXPOSIÇÃO NACIONAL FLORICULTURA – 1º PRÉMIO”
LISBOA “TRABALHOS JARDINAGEM ESPOSIÇÃO MUNDO PORTUGUÊS”
ABRANTES – PLACAS AJARDINADAS/EXPOSIÇÃO CRISÂNTEMOS
(1) Vasos de barro expostos em fila, com pouca largura, para facilitar os amanhos culturais. Vasos não pintados facilitam a respiração das raízes e possibilitam as trocas gasosas através dos poros do barro, havendo um melhor desenvolvimento da planta.
(2) Intimidações à família, por reclamar melhores condições de trabalho, trouxeram-no a esta terra.
(3) Regar as plantas expostas nas “Estufas de Inverno/Verão” era o castigo que o avô Simão aplicava aos netos.
(4) José António Vieira, jardineiro da C.M.A., foi algum tempo depois, Chefe dos Jardins Municipais de Évora, onde se realizaram importantes exposições de crisântemos e mosaicultura.
(5) Taça encontrava-se exposta na Biblioteca, existente nos Paços do Concelho.
(6) Foto “Exposição Nacional de Floricultura” – Lisboa.
Negativos: Carlos Vieira Dias, digitalização JMOV.
NOTA: As “placas ajardinadas”, apresentadas no “Jornal de Alferrarede”, são apenas uma parte do que se fez em Abrantes.
As fotos do “friso” que se encontrava à entrada do Jardim do Castelo (lado esquerdo), com os dizeres “C.M.A. VEJA E NÃO MEXA”, já não existe. A “placa” com o célebre “RELÓGIO MARVIN”, que tantos forasteiros trouxe ao “Jardim”, incluindo o representante oficial da marca em Portugal e que valeu um relógio ao jardineiro da C.M.A., Simão Vieira, não foi publicada no "Jornal de Alferrarede", porque só agora a fotografia foi achada no meu arquivo pessoal. Se outras fotos de "placas" forem descobertas por quem ler este "blog", comente e diga onde as encontrar.