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ABRANTES - FONTES E LAVADOUROS

José Manuel d’Oliveira Vieira
(Autor Artigo "Jornal de Alferrarede Agosto 2006)
“…são os monumentos mais visíveis de um certo gosto de populações antigas”

Dados históricos do século XVI/XVII, dizem-nos não ter existido dentro da “Villa” de Abrantes, fonte alguma de água potável. Existia sim, uma fonte cujas águas de tão salobras que eram, não serviam sequer para lavar com sabão, mas tinham a particularidade de servir para amassar o pão e para trabalhos de tinturaria. Esta era a fonte do Chafariz ou “Fonte do Salgueiro” (Abrantes). Este tanque, inicialmente um poço, foi transformado em fonte pública e logo de seguida em Chafariz, tendo servido outrora para dar de beber às “bestas”. Hoje, quase não é reconhecível, tal o seu estado. Para melhor localização, diga-se que se encontra nas traseiras do Mercado Municipal e serve de entrada para um parque de automóveis da cidade (fig. 1).
Fig.1
Fonte dos Frades (Abrantes). Esta fonte ficava perto das muralhas, junto do Convento dos Frades e Terreiro de Stº António. Pequena nascente de água potável, foi em 1868, objecto de obras para aumentar o seu caudal, de forma a poder ser conduzida para a “Villa”.
Junto a esta fonte, também designada por Fontinha, existe um antigo lavadouro municipal, cujas águas provinham dessa nascente. No local, ainda há vestígios (razoáveis) de água a brotar da encosta. Confrontando fotos antigas, com as actuais, é notório o estado de degradação do lavadouro público. Actualmente encontra-se a servir de arrecadação e palheiro (fig. 2).
Fig.2
Fontes de S José. Devido à excelente qualidade destas águas, os habitantes de Abrantes utilizavam-nas para beber e em usos domésticos. Tinha no entanto a particularidade de ficare a mais de 800 metros das então muralhas da “Villa”.
Da Fonte de S José (Alferrarede), sabe-se terem sido feitas obras de desobstrução de canos e a mina ter sido abobadada de novo até á origem do nascente em 1865.
Sabe-se também ter a Câmara dispendido com essa obra a importância de 128 mil duzentos e cinquenta réis (fig. 3).
Fig.3
Fonte do Aipo (Abrantes). Junto ao antigo campo de futebol “a sul do Barro Vermelho (“Toponímia Abrantina” de Eduardo Campos), existe uma fonte cuja água era tida de boa qualidade, e donde os Abrantinos beberam durante muitos e muitos anos.
Os topónimos Vale e Fonte do Aipo atestam-se em documentos de meados do século XVII (LR5, f. 100 v e AM, 1, 17”)
Nota: até à data não foi possivel encontrar qualquer foto deste local. No entanto, por ter sido palco de imensos acampamentos e pic-nic's nos anos 30/40/50 do Século passado, é provável haver quem as possua).
Fonte Quente e Lavadouro (Alferrarede). Recebeu em 1867 e 1868 melhoramentos profundos de limpeza.
Após visita ao local, constata-se o abandono a que foi sujeita. Esta fonte e lavadouro (público) são sem dúvida dos mais belos exemplares existentes no nosso Concelho. Os brasões existentes nas suas paredes, só por si, justificam a conservação e restauro imediato de tão importante monumento histórico (fig. 4).
Fig.4
Fonte de S. Caetano (Abrantes). Tal como a fonte Quente, foi sujeita a melhoramentos, nos anos 1867/68. Localiza-se a meia encosta, entre Abrantes e Alferrarede. Durante muitos e largos anos serviu as populações próximas da cidade.
Assim era no século XVI/XVII, assim é no século XXI. Com menos frequência, é certo, mas ainda se vê gente a encher os garrafões de água nesta fonte. Os mais afoitos que se atrevem a percorrer o caminho Abrantes/Alferrarede e vice-versa, lá continuam a parar e a saciar a sede na calha de S. Caetano.
Chegar ao local é um autêntico martírio. A bica ainda corre em abundância e a água que corre para um tanque (não se vislumbra), serve para regar as hortas que por ali vão persistindo. Beber um trago de água nesta bica, descansar e conversar, era um hábito que os trabalhadores das indústrias de Alferrarede faziam quando regressavam a suas casas em Abrantes (fig. 5).
Fig.5
Na foto que retrata a fonte, pode-se ver no canto superior direito, um desenho a guache, do pintor Abrantino, Mário Cordeiro.
Por se encontrar actualizado, veja-se o que a C.M.A deliberou em sessão no dia 11 de Julho de 1792: “… que fosse reparada com toda a brevidade o Caminho das hortas de Saõ Caetano, por ser hum das maiores necessidades deste Povo”.
Menos conhecida das novas gerações, mas bem conhecida da antiga população de Abrantes a nascente dos Passarinhos (?) ou Fontinha (?), encontra-se bem perto da fonte do Chafariz. Nesta fonte, era vulgar encontrar os profissionais da “rede”. Longe dos olhares das autoridades, as “redes” eram montadas e capturava-se os tão apetecidos passarinhos, petisco comercializado nas numerosas tabernas existentes em Abrantes. Actualmente, os caminhos estão intransitáveis e a fonte não se vislumbra. No seu lugar correm águas de esgoto (fig. 6).
Fig.6
Estas foram as fontes que serviram a “Villa” de Abrantes. Outras há que, pela importância que tiveram na época, merecem destaque: Duque de Loulé (Alferrarede). Mais do que um simples fornecedor de água, esta fonte tem exercido sobre as populações que dela se servem (ainda), um poder quase que milagroso. Apesar das muitas placas a interditar o seu uso, as mesmas desaparecem e, como que num círculo vicioso os fregueses lá continuam a encher de água os garrafões e a lavar os carros.
Por se encontrar bem perto da estrada. Merece das entidades responsáveis um outro tratamento, para que se torne um local aprazível e funcional (fig. 7).
Fig.7
Ómnia (Alferrarede/Quinta do Bom Sucesso). Possui esta Quinta uma das melhores nascentes de água na região. Por se tratar de uma propriedade particular, pouca gente se desloca hoje à Fonte da Ómnia. Todavia, no passado, esta fonte era muito procurada pelos habitantes da região. Por generosidade da então Marquesa do Faial, D. Maria Assunção de Sá Paes do Amaral, esta nascente abasteceu durante algum tempo a parte velha de Alferrarede (fig. 8).
Fig.8
S Jerónimo, S João, Pastores, etc. etc., são fontes ainda existentes. Sobre estas e muitas mais, nos debruçaremos mais tarde se não houver quem o faça antes.
No Rossio ao Sul do Tejo, na margem Sul, existiam duas fontes: a Fonte dos Touros (fig. 9), foi, após muitos anos de abandono, encontrando-se em ruina, foi recuperada. A Fonte das Nogueiras, com uma abundante bica de água a correr para um lavadouro, pura e simplesmente desapareceu. Para a recordar, resta uma ou outra fotografia que assinala o local onde a mesma se encontrava (fig. 10).
Fig.9
Fig.10
Fotos:
Fig. 2 Carlos Vieira Dias
Fig. 8 e 9 "Jornal de Alferrarede"

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