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CISTERNAS DE ABRANTES (I)

“…foram, desde os árabes, um dos processos mais expeditos e ecológicos de armazenar água”José Manuel d’Oliveira Vieira
(Autor Artigo "Jornal de Alferrarede" Julho2006)
No século XVII, a “Villa de Abrantes” possuía oito Portas: “de Valle de Judêo, do Chafariz, da Rua do Cabo, da Rua da Barca, do Quinchôzo, da Ferraria de S. Anna e a de Stº António”. Não sendo inexpugnável era, no entanto, uma Praça-forte, com uma população de 3115 habitantes no ano de 1817, assim distribuídos: Freguesia de S. Vicente e Castelo 1623 habitantes e a Freguesia de S. João e S. Pedro 1492 habitantes. Nessa data, a “Villa” tinha no interior dos seus muros 69 cisternas.
Trinta e nove anos depois (1856), Abrantes era detentora de qualquer coisa como 111 cisternas.
Por uma Planta do ano de 1817, da “Praça e Povoação d’Abrantes, levantada pelos Officiaes do Real Corpo de Engenheiros, o Segundo Tenente João Damasceno da Cunha Machado Pinto e Segundo Tenente José António de Abreu”, foi possível localizar as ruas onde se situavam e situam ainda, alguns “algibes” mencionados num velho documento de 1856 que serviu de alicerce para escrever o artigo sobre as “Cisternas de Abrantes I” (fig. 1 e 2).

O pouco que se sabe sobre as mesmas, encontra-se escrito no livro “Memória Histórica da Notável Vila de Abrantes”, de Manuel António Morato e João Valentim da Fonseca, com organização e notas de Eduardo Manuel Tavares Campos, página 28 e resume-se a mencionar “terem existido 69 cisternas em 1817”.
Nota-se, isso sim, em quase todos os escritos da época (século XVII), uma grande preocupação em conduzir para dentro da Vila, as águas que se encontravam dispersas pelo monte de Santo António, mas que na realidade se concluiu serem em pouca quantidade.
Por esse facto e como praça de guerra que era, a Vila já se tinha adaptado, pelo que quase todas as casas possuíam o seu sistema de armazenamento de água para usos domésticos.
Além das cisternas que tão cuidadosamente eram tratadas (nessa época) e tão grandes serviços desempenharam e prestavam à população, havia ainda algumas fontes no interior e exterior das muralhas. Sobre estas últimas falaremos num dos próximos artigos.
Pela importância que o sistema representava para a defesa da “Villa”, em 1856, em resposta a um Oficio do Coronel Comandante d’um Batalhão Nacional, o Capitão da 6ª Companhia do mesmo corpo informava haver em “Abrantes” as seguintes cisternas:
1
Convento de Santo António (Hoje Largo de Stº. António) – duas cisternas
Das duas cisternas existentes, uma encontra-se no Parque Dr. Manuel Luís Fernandes, situado defronte do Hotel Turismo. Desconhece-se a localização da outra cisterna (fig. 3). 4
Convento da Esperança (Hoje Rua Actor Taborda) – duas cisternas
Neste antigo Convento continuam a existir as primitivas duas cisternas. Por deferência da Madre responsável pelo Colégio de Fátima, foi-me permitido fotografar as mesmas e verificar como é possível preservar o passado, enquadrando o conjunto (Convento/Colégio) num espaço destinado a fins escolares. Um exemplo a seguir (fig. 4). 18/19
Rua de Santa Iria – cinco cisternas

Hoje Rua D Afonso Henriques. Nesta Rua as cinco cisternas existentes pertenciam: Viúva Estêvão, Facas, D Luísa Abreu, Mota e Temudo. A água desta última era proveniente de uma nascente.
14
Rua Adiante – seis cisternas
A actual Rua Actor Taborda tinha à época seis cisternas que pertenciam aos proprietários: José Pedro, Plaquet, Escrivão Ferreira (duas), Manuel Lopes d’Oliveira, Viúva de Jerónimo Medidor.
12
S Vicente – três cisternas
Aqui encontravam-se três cisternas pertencentes aos senhores: Valejo, Oleiro e Machado.
10
Rua do Castelo – três cisternas
É desde 1908 Rua Capitão Correia Lacerda. Nesta antiga rua do Castelo, das três cisternas, duas pertenciam ao Sr. Raimundo e uma ao Padre João da Silva (fig. 5). A
Castelo – sete cisternas
No Castelo de Abrantes, consta ter havido sete cisternas, uma das quais nascente. Hoje apenas se encontra à vista uma que pode ser apreciada pelos visitantes que se deslocam a um dos pontos mais altos da cidade (fig. 6). Um pequeno lago que ainda se encontra no Jardim junto à muralha era abastecido com água dessa nascente. A água sobrante do lago servia igualmente para regar algumas hortas que se encontravam na encosta do Castelo.
Das restantes cisternas, é provável que uma ou duas possam ter existido no local assinalado na foto, uma vez que tenho noção de uma delas ter sido entulhada junto à árvore que se encontra à esquerda (fig. 7). 48/49
Rua Nova e da Palma – cinco cisternas
Diogo Emídio de Almeida foi proprietário de quatro das cinco cisternas existentes nesta rua. Diogo Cotovio foi proprietário da outra.
51
Rua de S Pedro – quatro cisternas
José Maria Brandão, Augusto Bobela, José Nunes, João Alberto (fig. 8). V
Quinxosos – duas cisternas
Criada do Padre Luis Saraiva, Filha do D. Alvaro.
52/53
Ruas da Barca – doze cisternas
A par da Rua Grande, as Ruas das Barca de Cima e de Baixo (Rua da Barca e D Nuno Alvares Pereira), eram possuidoras do maior número de cisternas na “Villa”. Estas pertenciam: António da Cunha, Maria do Carmo, Viuva do Passaro, Sobrinha do Sebastião, Padre Domingos, Tenente-coronel Ramos, Dr. Paulo, Segurada (duas), D. Francisca, Joaquim de Moura, Hospital (fig.9/10/11). 47
Rua Grande – treze cisternas

Gabriel (duas), Fernando Afonso Geraldes, Valejo Feio, Pissola, B. de Castelo Branco, Dr. Rafael, Barbosa Ajudante, José Lopes Menaia, Paulas, Bergara, Joaquim Ferreira, Francisco d’Abreu (fig. 12). 45/40
Rua dos Oleiros e da Boga – nove cisternas
Roque Calado, Florencio Dias, Manuel Fernandes, Viuva Salgueiro, José Maria da Silva, Vigário de S Vicente, José Apolinário, Paula Moura (duas) (fig. 14 e 15). 41
Praça e Rua da Cadeia – três cisternas

Raimundo, Brás Consolado, José Apolinário (fig. 13 e 16). 31/9
Rua dos Castanhos e Pasteleiros – seis cisternas
Marcelino, José Runa, Castros, João Requio, Silva Rosa, José Ribeiro.
7/6
Praças da Palha, Rocio e Proximidades – onze cisternas

Manoel Arruda de Serpa (nascente), Viuva de Porfirio Vaz, Aniceto Bobela, Comendador, Manoel d’Almeida Beja, Criada do Pataco, Pedro Curto, Convento de S Domingos, Convento da Graça (nascente), Pimentas, Aniceto (fig. 17). 28/24
Rua das Estalagens e do Cabo – cinco cisternas
Manoel Inácio da Silva, Lagar do Boubela, Padre Fialho, B Valejo Feio, D. Emilia.
23
Rua do Chafaris – seis cisternas

Dr. Zeferino (duas), Manoel do Club, Manuel Joaquim de Castro, Carapinha, José Apolinário da Silva.
39/21
Rua do Outeiro e Olarias – sete cisternas
António Alves da Silva, Escrivão Rosa, Almadas (duas) uma é nascente, Salgadas, Manuel da Costa, Romão Cabanelas.

***

Como se compreenderá, o presente artigo não é de forma alguma um levantamento completo ou técnico das cisternas existentes em Abrantes.
Fazer um inventário completo e criterioso destas raridades, é um assunto sério a requerer um Historiador ou Arqueólogo.
Consultar proprietários, escrituras, arquivos históricos e relacionar a “Toponímia de Abrantes do século XVII” com as ruas e cisternas, é obra para profissionais.
As “Cisternas” fazem parte integrante da “Memória Histórica de Abrantes”.
Publicar um livro e fazer uma colecção de postais* onde conste a totalidade das cisternas existentes, será para os proprietários das mesmas e para Abrantes uma mais valia e terá ainda a vantagem de as mesmas ficarem catalogadas.
Serviram os 3115 habitantes da então “Villa de Abrantes”. Hoje, tal como ontem, algumas cisternas, ainda continuam a servir os actuais proprietários.
Preservá-las é uma obrigação. Restaurar edifícios antigos, não pode de maneira alguma, significar a destruição de mais uma cisterna como aconteceu recentemente na Travessa do Pacheco (2005/2006).
Das 111 cisternas existentes em 1856, quantas haverá agora?
Por incrível que pareça, ainda existem muitas. Até quando?

*Com edições da Câmara Municipal de Abrantes.
NOTA: Os números ou letras que antecedem o nome das ruas e se encontram a AZUL, referem-se à localização dessa mesma rua na Planta (fig. 1).

AGRADECIMENTOS – Sem a devida autorização dos proprietários não seria possível apresentar este pequeno e modesto trabalho sobre as “Cisternas de Abrantes”. Para eles o meu muito obrigado.

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