PINTAR E ESCREVER ABRANTES
Por José Manuel d’Oliveira
Vieira
“PINTAR E ESCREVER ABRANTES” - três
personagens que fizeram parte da cultura abrantina: Mário Cordeiro (I) (já publicado em março 2019), José
Paulo Fernandes Júnior, solicitador/dramaturgo/pintor (II) (já publicado em abril 2019) e Dr. José Serra da Mota,
advogado/notário/pintor (III) (maio
2019).
III
JOSÉ SEBASTIÃO SERRA DA MOTTA – 1883/1943
Abrantes pouco ou nada conhece da
sua obra. No entanto, as suas telas figuram nos Museus de Arte Contemporânea de
Lisboa, Bragança, Guimarães, Viseu, Figueira da Foz, Guarda, Teixeira Lopes de
Gaia, José Relvas – Patudos e Biblioteca Municipal de Abrantes.
Além dos museus já citados, casas
particulares, ex-Colégio de Fátima (desconheço a pintura ou pinturas que ali se encontravam), Montepio Abrantino Soares Mendes e na casa
da quinta do Dr. Solano de Abreu existem magnificas obras que bem demonstram o
valor deste artista.
No já desaparecido “Café Abadia”,
inaugurado no dia 15 de agosto de 1929 (assim chamado por ter sido construído
numa antiga capela), figuravam belíssimas pinturas do Dr. José Sebastião Serra
da Motta.
Por “CARTAS DUM VELHO ABRANTINO –
escritas por David Bruno Soares Moreira em 30-V-1944, ficamos a saber ser José
Motta conhecido por alguns amigos na juventude por Zé Telha, “ser um observador esplendido e o seu lápis
de moço artista começou a desenhar os perfis das pessoas que perto dele
conviviam com seu Pae, diariamente, na Farmacia Mota… Salvo erro a primeira
caricatura que fez foi a do Prior de São João, o Padre Alexandrino…”
Jornais nacionais e locais se
interessaram e reconheceram o valor artístico que José Motta teve na arte de
bem desenhar e pintar.
No Salão Nobre do Montepio
Abrantino Soares Mendes (agora fechado sem se saber bem o motivo), podemos ver uma
tela de grandes dimensões, que, se não houver outro desfecho para a mais antiga
Associação abrantina a mesma seja conservada em lugar que todos os Abrantinos
apreciem um dos estilos de pintura de José Motta.
Pintura de José Motta
(Montepio Abrantino Soares Mendes)
Na “Vila Maria Amélia - 1892”,
Quinta do Dr. Solano de Abreu, lá encontrei entre outras pinturas quadros de
José Motta, representativos da atividade agrícola praticada naquela casa à
época. É, pois, no contexto rural que em 1910 o grande artista abrantino, fez a
sua primeira exposição de pintura no Sindicato Agrícola de Abrantes, situado na
Rua Grande.
Nota: por doação à Igreja poderá
este importante espólio ser arrolado e constar como património local?
Pinturas de José Motta
Quinta D. Amélia (Vale de Roubam)
Ainda em 1910, organiza e cria em
Abrantes um centro de desenho na antiga Sociedade dos Artistas de Abrantes.
Quase a lembrar banda desenhada,
o livro de Solano d’Abreu, que possuo, com dedicatória do autor a sua sogra D.
Narcisa Fialho e Silva, “Um Anjo sem Azas – 1907”, tem ilustrações do seu
grande amigo José Motta.
Ilustrações de José Motta
(Livro, “Um Anjo sem Azas – 1907” de Solano de Abreu)
Dos azulejos da antiga Igreja do
Socorro (mais tarde Farmácia Motta Ferraz), José Motta retratou um dos motivos para
a casa de Apolinário Marçal com a legenda: SONET VOX TVA INAVRIBUS MEIS VOX ENGIN1 TVA DULCIS (Can.2)2. A revelação consta no
Jornal de Abrantes – Ano 1951. Por saber fica: é “desenho/pintura ou um painel
de azulejos”?
1Terá havido falha do Jornal ou José Motta ter escrito/pintado
na legenda “ENGIN” em vez de “ENIM”?
2Querendo saber o que foi escrito em Latim no jornal em 1951, recorri ao
Doutor Professor Joaquim Candeias da Silva que traduziu e informou ser este, um versículo do belíssimo livro do A.T.,
Cântico dos Cânticos, capítulo 2, 14, que no original é um pouco maior: “Pomba
minha (…) mostra-me a tua face, SOE A
TUA VOZ NOS MEUS OUVIDOS, PORQUE A TUA VOZ É DOCE e a tua face graciosa.
No Convento de S. Domingos/1973,
realizou-se uma “exposição homenagem” a este grande artista abrantino. Além da
BIOGRAFIA de José Motta, o catálogo da exposição nos revela terem sido expostos
77 quadros da sua autoria.
Da grande e memorável “exposição
homenagem a José Motta”, realizada no Convento de S. Domingos/1973”, foi o “CIDADÃOS POR ABRANTES” a informar ter a RTP realizado uma reportagem filmada
que pode ser vista em “RTP ARQUIVOS – Festas de Abrantes”. Ao colega BLOGUISTA os meus agradecimentos.
Abrantes tem no “No Vale de Rãs” uma
artéria a que foi dado o nome de “Rua - Pintor José Sebastião Serra da Mota.
Não merecerá José Motta mais que isso?
Ei-lo aqui: homem parco no falar
Com uma alma d’artista…um bom pintor,
Paisagista distinto, não vulgar
“O Povo de Abrantes, 17-X-1916”
(Da publicação: Perfis – 1932 – Justo Paixão)
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