ARTES e OFICIOS -PROFISSÕES EXTINTAS
I - GUARDAS NOTURNOS
Por José Manuel d’Oliveira
Vieira
Um pequeno cartão de visita do “O Guarda Nocturno desta área”, que encontrei nos meus velhos
papéis fez-me retroceder no tempo em que estes vigilantes proporcionavam aos
moradores e comerciantes de Abrantes um merecido e tranquilo descanso (fig. 1).
Com o cartão, lá encontrei nos meus artigos vintage um “relógio” e uma “foto”,
relíquias de um passado recente, profissão já extinta na cidade de Abrantes.
O cartão do “Guarda Noturno” a desejar “…um Natal Feliz e um Ano Novo muito
Próspero” era uma forma de angariarem uns trocados à sua magra remuneração
que subsistia de cotizações dos beneficiários locais.
Durante a noite, fizesse frio, chuva ou calor, lá
iam percorrendo a área que lhe estava atribuída, abriam as pequenas caixas que
se encontravam nas empenas das casas (ainda se podem ver algumas), tiravam a
chave (fig. 2/3) e registavam no relógio transportado a tiracolo a passagem por
esse local (fig. 4).
fig. 4
Uma rara fotografia de um “Guarda Noturno” de
Abrantes, devidamente fardado, foi tirada na Rua do Montepio Abrantino, junto à
casa de “José Motta” e “Padaria Abrantina” (fig. 5).
fig. 5
II – CAUTELEIROS
A “lotaria” era até há bem pouco tempo vendida por
cauteleiros nas ruas de Abrantes. Exibindo os números das cautelas que tinham
para venda, esta velha profissão caiu em desuso e foi extinta na “Cidade
Florida”.
Clientes mais ou menos fixos lá iam comprando aos
cauteleiros abrantinos o seu número preferido à espera que lhes saísse a “sorte
grande”.
O último “cauteleiro” de Abrantes foi o “Ramiro” .(fig. 1). Durante o dia ele calcorreava
as ruas de Abrantes, Chainça e até tinha permissão para vender a lotaria da
Santa Casa naquele que foi o Regimento de Infantaria de Abrantes..
A lotaria deixou de ter importância no quotidiano abrantino
e deu lugar ao “euro milhões”, “totoloto ”, “raspadinha”. “lotaria popular” e
mais recentemente o “placard”.
Ramiro não foi o único cauteleiro de Abrantes.
“Bombinhas” – António Neves da Silva (fig. 2) e o “O Malinhas” – Ramiro Jorge
(fig. 3), foram os mais antigos cauteleiros de Abrantes. A história destes
últimos é lembrada no livro “Poeiras do Passado” do autor Fernando Martins
Velez – 1977. A engraxadoria Aliança de Guilherme Marques Conde junto à
ex-empresa “Claras” também distribuía lotarias na cidade de Abrantes. Pelas
nossas ruas também era usual encontrar o “Américo” (fig. 4), que morou na Rua
Actor Taborda, paredes meias com a casa onde vivi.
fig. 2 - Bombinhas fig. 3 - Ramiro
fig. 4 - Américo
***
III – SAPATEIROS
Profissão muito antiga em Abrantes. Tão antiga que
a história dos mesmos está relacionada com as Invasões Francesas e o confisco
dos sapatos aos abrantinos pelas tropas de Junot.
Por terem sido tantos, mencionar todos os
sapateiros artesanais que exerceram ou tiveram porta aberta em Abrantes não é
tarefa fácil. Por isso, apenas vou mencionar neste pequeno apontamento os que
mais conheci e dos quais guardo algumas memórias e imagens:
SAPATARIA “Lobato” de José
Lobato, teve lugar no Largo João de Deus (fig. 1) e mais tarde na Rua Serpa
Pinto local onde existiu a “Sapataria Janeiro” em frente à “Sapataria Lagarto”.
SAPATARIA “Lagarto” de António Nunes de Oliveira, teve esta
sapataria lugar na Rua Serpa Pinto. Do proprietário, Armando “Lagarto” recebi a
cópia de uma foto obtida no último mercado realizado na Praça da República,
antigo largo do Rossio ou da Feira (frente às grades do atual Politécnico de
Abrantes (fig. 2).
Sapataria “Lagarto” - Rua Serpa Pinto
(Apesar de fechada ao público, podemos ver todos os dias, ao
fundo da rua, o Sr. Armando, sempre pronto a falar de uma arte já extinta em
Abrantes)
LEGENDA - FOTO
FRENTE – António Nunes de Oliveira (Lagarto), pai; Armando
Maria Nunes de Oliveira, filho; Maria Aurora Nunes de Oliveira, filha; Maria
Odete Nunes de Oliveira, filha; Joaquim Neto (não é parente – está foto por
casualidade).
RECTAGUARDA: Espeta Figos (alcunha); Sogro do Germano (café); militar
(!); Manuel Cordeiro Consolado (empregado da Sapataria Lagarto).
SAPATARIA “Apolinário” de Apolinário
Dias, padrinho de José Lobato e do autor deste apontamento. Esta sapataria teve
lugar na Rua Serpa Pinto, no local onde hoje se encontra a “Retrosaria Guemita”
(fig. 3).
fig. 3
SAPATARIA “Fraquinho” de
José Grácio da Silva. Na esquina da Rua Condes de Abrantes com a Rua José
Estevão (Rua da Câmara), esteve situada a “Sapataria Fraquinho”. Nesta
sapataria era vendido “cabedal” ao quilo aos sapateiros de Abrantes (fig. 4).
Na foto: Zé Mó “engraxador”
uma figura bem conhecida em Abrantes
SAPATARIA “Feliciano”. O
último sapateiro artesanal com porta aberta ao público em Abrantes situava-se na
Rua Dr. Henrique de Carvalho. Feliciano, nome por que era conhecido, deixou a
atividade de sapateiro em maio de 2007. Pouco antes do proprietário encerrar
esta prática de fazer calçado por medida e consertos, obtive as fotos aqui
publicadas:
SAPATEIRO “Incendiário”. Na
Rua D. Nuno Álvares Pereira, junto à casa onde nasci, conheci o “Sapateiro”
conhecido pela vizinhança por “Sapateiro Incendiário”. Pessoa afável, cabelo
espetado e muito falador. A razão porque era chamado de incendiário ficou até
hoje por conhecer.
SAPATARIA “Nogueira”. Na
Rua Grande, na confluência para a Rua Manuel Constâncio ali esteve a “Sapataria
– Nogueira, pai e filho”. No local está hoje o “Salão de Cabeleireira –
Madalena”.
SAPATARIA “Joaquim Meio Dias”, na Rua
José Estevam (não tenho ideia da sua existência). ***
FUNILEIRO/AMOLA TESOURAS/LATOEIRO
FUNILEIRO/AMOLA TESOURAS “Ti
Filipe”, Filipe Nunes. Quem em Abrantes não conheceu o “Ti Filipe” (ver
fotos). Homem dos sete ofícios: boxeur, futebolista, músico, funileiro/amola
tesouras. De entre muitas outras coisas também fazia teatro de “robertos”, arte
que ensinou nas escolas.
Anunciando através do som do realejo, o arranjo de
guarda-chuvas, tachos de alumínio ou meter “gatos” nos tachos de barro, afiar facas,
tesouras etc. O “Ti Filipe” foi o último
“funileiro/amola tesouras de Abrantes. O Senhor Filipe Nunes, “Ti Filipe” como
era conhecido substituiu durante muitos anos os já extintos “latoeiros” com
casa aberta ao público na nossa cidade - faleceu em 2010.
s “Ti Filipe” – Na sua oficina - Rua Cidade Caldas da Rainha
LATOEIRO “Serrasqueira”, Manuel
Mendes Serrasqueiro assim se chamava um dos últimos latoeiros na cidade de
Abrantes. Na foto podemos ver os artigos que eram expostos nas feiras e
mercados pelo mestre “Serrasqueira”. Entre
outros que tiveram porta aberta ao público nesta cidade recordo o latoeiro
“Borges” que teve lugar na Rua Monteiro de Lima, rua onde morei.
Manuel Mendes Serrasqueiro e filhos
Último mercado de Abrantes na Praça da Republica . Por trás ficam as grades do atual Politécnico
***
***
V – ALFAIATES
Os alfaiates por medida, com porta aberta ao
público há muito acabaram em Abrantes. Os mestres Alfaiates, executavam na
perfeição fatos que os clientes desejavam. Os fregueses habituais que
procuravam o mestre ideal para a sua peça de vestuário têm agora de procurar os
“prontos a vestir”.
Para recordar a arte de fazer fatos à medida do
cliente fica o apontamento e locais mais ou menos conhecidos onde os mesmos
existiram:
ALFAIATARIA “Gaspar”, com primeiro
assento na Rua Dr. Henriques Carvalho e mais tarde na Rua Dr. Bernardino Machado
(foto).
Alfaiataria Gaspar – Costureiras
ALFAIATARIA “Mário Roldão na Rua Serpa
Pinto. No local existe hoje uma retrosaria.
ALFAIATARIA “Vieira” na Praça Raimundo
Soares.
ALFAIATARIA “Navalho” de Alfredo
Navalho na Praça Barão da Batalha.
ALFAIATARIA “Dias” de Manuel Dias na
Largo Dr. Ramiro Guedes. No 1º andar da sua casa (duas janelas), tinha Manuel
Dias a sua oficina de fatos por medida.
ALFAIATARIA “Sr. João” na Rua Infante
D. Henrique.
O Sr. João à janela da sua
casa
ALFAIATARIA “Policarpo” (não tenho
ideia da sua existência)
ALFAIATARIA Tiago Roxo na
Rua José Estevam (não tenho ideia da sua existência)
ALFAIATARIA “Marcelino”
(não tenho ideia da sua existência, dados referem-se ao ano de 1933).
NÃO SE ENCONTRAM EM EXTINÇÃO
EM
ABRANTES todas estas artes e ofícios estão EXTINTOS
PARA MEMÓRIA fica o apontamento (feito em fevereiro de 2019)
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