MARTINS JÚNIOR – O REPUBLICANO QUE
PRETENDEU SANEAR E MORALIZAR A PRIMEIRA REPÚBLICA – 1910/1926
Por José Manuel d’Oliveira
Vieira
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(fig. 1) |
João Augusto da Silva Martins Júnior, o político e revolucionário mais temido da I Republica diz no livro A GRUTA DOS VAGABUNDOS (fig. 1): os “Videirinhos, os Ribeiros, os Arcanjos, os Teixeiras, etc vão saber que a República não se fez para tratarem do estômago, fez-se para dar garantias e bem-estar ao Povo Português, continua estigmatizada e não encontra lugar na história das revoluções que mudaram o País.
Filho
do intransigente monárquico João Augusto da Silva Martins, proprietário da
“Moagem Afonso XIII”, Martins Júnior cedo mostrou dotes revolucionários,
radicais e intelectuais: aos oito anos, 1891, as ruas de Abrantes já conheciam o
exército de meninos que ele comandava
todos armados de espingardas feitas de cana e espadas tiradas de arcos velhos e
as frequentes guerrilhas entre os gaiatos da freguesia de S. João e S. Vicente.
Com 15 anos, 1898, escreveu o romance “Belmira, a mártir”, livro editado em
1929, quando já se encontrava afastado da política e das revoluções.
(fig. 2) |
(fig. 2A) |
Após
um ano de cativeiro, porque ele próprio se entregou à administração do concelho
da então Vila de Abrantes, Martins Júnior, defendido em audiência de júri no
tribunal desta Vila pelo correligionário e grande parlamentar Dr. Afonso Costa,
foi mandado em paz.
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(fig. 3) |
Onde
os “mercadores” viam estabilidade, Martins Júnior via na jovem República
Portuguesa, ignorância política, greves, repressão violenta, pronunciamentos,
Monarquia do Norte, caos e crimes hediondos, o governo a mudar 8 vezes num só
ano, a fome, falta de azeite e as fábricas de conserva a fecharem no Algarve,
bancos a falir no país, a maior burla do século (Alves dos Reis), deportações e
presos sem julgamento.
Com
a generalidade dos militares e uma parte da classe política, inconformados com
a situação política de descrédito e ruína nacional, elementos do Partido
Republicano Português deixaram de acreditar no plano de reconstrução nacional e
formaram o Partido Republicano Radical.
Obstinado
em sanear e restaurar a Republica de 1910, Martins Júnior, que até à data defendera
o regime, juntamente com outros elementos radicais, decidem levar a efeito uma
tentativa revolucionária destinada a fazer mudar o rumo da política do Governo
de António Maria da Silva.
Estava
o chefe do Governo, António Maria da Silva e o presidente da Republica,
Bernardino Machado a comemorar no
Porto o 31 de Janeiro de 1891, quando no dia 2 de Fevereiro de 1926 os radicais
Martins Júnior e Lacerda de Almeida, auxiliados por sargentos e praças da
Escola de Artilharia de Vendas Novas, tomaram a unidade de assalto.
No
Quartel de Vendas Novas, quando Martins Júnior se dirigiu ao quarto do único
ferido no ato revolucionário, encontrou um oficial que durante alguns anos
viveu na Rua da Barca em Abrantes.
O
jovem Alferes de Artilharia ferido era nem mais nem menos Humberto Delgado que
não terá reconhecido de imediato Martins Júnior, mas tanto quanto se sabe,
conhecer-se-iam de vista, pois moravam relativamente perto um do outro, na
Freguesia de S. João Batista – Abrantes.
Na
posse do armamento confiscado, Martins Júnior, Lacerda de Almeida e forças
revoltosas desembarcam na Estação Ferroviária do Seixal.
Nos
automóveis e camiões que apreenderam, cerca de 400 militares e 20 civis seguem
para Almada onde chegam cerca das 15 horas ao campo de S. Paulo, local onde
existiu o Palácio de Frei Luís de Sousa.
Apercebendo-se
que a “revolução de Almada” que tinha o objectivo de constituir um governo de republicanos sérios, não
iria triunfar devido à cobardia de muitos e traição de outros tantos, Martins
Júnior rende-se (fig. 4).
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(fig. 4) |
Ao
“Jornal de Notícias” Martins Júnior que nunca quis ser ministro declarou: Não desejo, não penso sequer, em fazer parte
de qualquer governo. O que este movimento visa apenas é legalizar a República,
fazer dela, um regime do povo e para o
povo.
Abandonado
pelos conspiradores, sugado monetariamente por vampiros que nas reuniões
conspirativas para a constituição do governo se indigitavam para várias pastas,
Martins Júnior, o revolucionário romântico, assim que acabou a revolução, 3 de
Fevereiro de 1926, sem qualquer julgamento,
juntamente com outros companheiros foi metido no vapor salva vidas “Patrão
Lopes” e deportado para os Açores – Fortaleza de S. Braz, onde chega 6 dias depois.
Do
degredo, escrevendo para jornais que se liam avidamente em todo o país, Martins
Júnior preparava já a próxima e última revolução da sua vida: “28 de Maio de 1926” , que o iria trazer de volta ao Continente.
Ao chegar a Lisboa
com os companheiros de luta que nunca abandonou, Martins Júnior teve uma
manifestação majestosa e apaixonada. O
número era grande, mas o vigor das saudações era maior (fig.5 e 6)
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(fig. 5) |
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(fig. 6) |
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(fig. 7) |
1 -
Capa Livro “A Gruta dos Vagabundos”; 2 – Antiga Rua da Graça local do atentado;
3 – Martins Júnior em Lisboa discursando à população de Abrantes, Revista
Brasil Portugal Nº 284 16 de Novembro de 1910; 4 - Martins Júnior e Lacerda de
Almeida no Jornal “O Século” de 3 e 4 Fevereiro de 1926; 5 - Martins Júnior à
chegada dos Açores foto Hemeroteca Digital Arquivo fotográfico da Câmara
Municipal de Lisboa B093504; 6 - Martins Júnior recebido no Palácio
Presidencial pelo amigo íntimo General Gomes da Costa Domingo Ilustrado ano 2
Nº 76; 7 – Martins Júnior o primeiro à esquerda da foto com o General Gomes da
Costa ao centro foto Hemeroteca Digital Arquivo fotográfico da Câmara Municipal
de Lisboa B093992; 8 – “O LIBERTADOR” Jornal Republicano do Povo Para o Povo de
Martins Júnior.
(a) Gervásio é Martins Júnior no Livro “A Gruta dos Vagabundos”.
(b) “S. Bento”,
assim designa Martins Júnior a Assembleia da República no livro “A Gruta dos
Vagabundos” ano 1928.
Fontes: O Abrantes 1909; O Século 1926; A Capital 1926; O Diário de Lisboa 1926;
A Gruta dos Vagabundos, Martins Júnior 1928; Correio de Abrantes 1946; Humberto
Delgado, o homem e três épocas, Vítor Dimas, Edições Expresso 1977.
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