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CASA/ERMIDA SENHOR/A DOS REMÉDIOS E REDUTO MILITAR

Artigo autor José Manuel d’Oliveira Vieira
(Publicado “Jornal de Alferrarede” Nº 269MAR2008)


Antigas cartas ou plantas militares do Reino de Portugal, são hoje cada vez mais imprescindíveis para localizar edificações ou monumentos, que o desleixo transformou num amontoado de pedras e o tempo fez desaparecer.
Nas plantas, mapas ou publicações elaboradas pelas gerações de outrora, quase sempre é possível encontrar ou vir a encontrar o tesouro que procuramos.
No Tomo Terceiro do Famoso Reino de Portugal (1712), Capitulo VII, a páginas cento e oitenta e seis e seguintes, dedicado à Vila de Abrantes, consta ter havido uma Ermida com o nome de Nossa Senhora dos Remédios.
Examinados alguns mapas e plantas da antiga Vila de Abrantes, do início do XIX, a Ermida de nossa Senhora dos Remédios encontra-se localizada nas cartas, mas não é mencionada nas legendas, ao contrário de todas as outras.
Se em 1801 e 1810, cartas e plantas da Vila a dão como Ermida, já em 1817, aparece na “Planta da Praça da Povoação d’Abrantes”, como “Reduto de Nossa Senhora dos Remédios”.

Entre 1801 e 1817, foi a Ermida Sª dos Remédios transformada em “reduto militar”. Atendendo à primeira e última data (1801/1817), não é de excluir, que a transformação desta Capela em reduto militar, tenha algo a ver com as invasões francesas. A ser assim (não querendo meter a foice em seara alheia), o local onde a Ermida dos Remédios teve assento, poderá ter desempenhado um importante papel na defesa da Vila de Abrantes.
Ao consultar a pasta onde se encontra o livro (1), que me poderia esclarecer sobre este assunto, fiquei a saber que: a “Ermida Senhora dos Remédios” era afinal “Senhor dos Remédios”.

Terá existido na Vila de Abrantes, outra Ermida dos “Remédios”?
Não havendo outra opinião, e, dando crédito a uma certidão (1), requerida pela Irmandade do Senhor dos Passos, na Vila de Abrantes, a de 13 de Maio de 1764, a Ermida chamar-se-ia efectivamente Senhor dos Remédios e apenas terá existido esta, de acordo com o titulo que se transcreve: “Titulo da cappela instituída por Manoel Dias Lopes na Ermida do Senhor do Remédios fronteira a Cadeia desta Vª.
E da mesma forma deixo à Irmandade do Senhor dos Passos desta Vª quatrocentos mil (r) em dinheiro, ou fazendas como melhor parecer a meos testamenteiros, para q. a dita Irmandade pelos rendimentos destes mande celebrar uma Missa em todos os Domingos, e dias Santos do ano pela minha alma, e da dita minha mulher na Capela do Senhor dos Remédios, q. tambem serve de Cas(sa!)(2), e fica fronteira a Cadeia Secular(3) desta Vª.; para que também os presos della tenham esse beneficio, e consolação, e a (…dª…) Irmandade fique mais aliviada da despesa, q. costuma fazer com as esmolas das Missas, q. na mesma Capella, e nos dias referidos manda dizer”

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“Assim consta da certidão, q. a (…dª…) Irmandade requereo, e se lhe mandou passar em treze do mês de Maio do anno de mil setecentos, secenta, e quatro; a qual se conserva no arquivo com os mais títulos”
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Da Ermida do Senhor ou Senhora dos Remédios nada resta senão um amontoado de pedras dispostas de forma circular, como se nos dissesse ter sido ali que teve assento a casa (!) Capela e Reduto Militar. Para melhor compreensão do lugar onde teve assento a Capela, veja-se parte de uma planta da antiga Vila de Abrantes (1817).

(1) AHCA “Capela de Nª Sr.ª dos Remédios 1795/1834”
(2) A poucos metros do local há vestígios de ali ter existido um poço, que serviria a casa/ermida ai existente.
(3) Em 20 de Julho de 1604, foram os presos Civis separados dos militares e transferidos para a nova Cadeia situada na Câmara. Por muitos e mais anos, continuou a cadeia do Castelo de Abrantes a albergar presos militares. Em 17 de Janeiro de 1812 o Coronel João Lobo Brandão de Almeida solicitou a D. Miguel Pereira Forjaz, o seguinte: “… para que me fossem enviadas as cem grilhetas...” … porem agora já não há mais meios se poder continuar, e como estão a chegar, continuamente sentenciados, aos trabalhos públicos; rogo a V. Ex.ª de ordenar, que me sejam enviadas, com toda a brevidade, a quantidade acima mencionada”.(AHM/DIV/1/14/097/237)
Foto: “Jornal de Alferrarede”

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